09/11/2021 14:14
”Milhares de apaixonados pela geração distribuída se sentiram como eu, traído”
Sei que estamos indo contra forças poderosas, mas, esse que vos escreve, a favor de uma causa justa, vai longe.
Foi um choque para mim o dia em que foi anunciado o “Acordo da Taxação do Sol”. Me lembro perfeitamente que naquele dia entrei em contato com um parlamentar e vários líderes do segmento de geração distribuída, propondo a mobilização junto ao Congresso Nacional para a criação de uma CPI para investigar o setor elétrico brasileiro.
Achei esquisito, que três das pessoas contatadas, o parlamentar e duas lideranças do setor, falaram que teríamos boas novas no final do dia. Fiquei com a pulga atrás da orelha, e olha que a pulga era daquelas hiperativas que incomodavam por demais.
E não é que ao final do dia tínhamos realmente uma grande surpresa. As lideranças nacionais acordaram a taxação do sol. Me senti personagem das músicas de Reginaldo Rossi e Marília Mendonça (que Deus os guardem em um bom lugar).
Aqui no Nordeste dizem que a “dor de corno” não passa, e, que é melhor ser corno de uma mulher amada, do que nunca ter se apaixonado por uma mulher. Aprendi a dura custa que os ditos populares geralmente não falham.
Me apaixonei pela geração distribuída de primeira, foi amor a primeira vista, parece até que foi encontro de almas que já se conheciam em vidas passadas. E como numa relação sadia e cheia de amor, fiz de tudo para ela e ela fez de tudo para mim. E assim brotou prosperidade e promessas de um futuro banhado na mais pura energia boa e positiva (solar é claro).
Mas, aí veio a SOGRA perversa, fazendo de tudo para estragar o relacionamento. Pasmem! A SOGRA queria transformar sua filha, bela e feliz, em algo irreconhecível e assustador, dizem as más línguas que ela, a SOGRA, tinha sido acometida pelo Complexo de Medéia.
Mas, não me contive e não me entreguei a passividade. Fomos a luta, que embora fosse desigual, valia a pena ser travada, para salvar minha linda geração distribuída.
Foram anos de lutas, calejamos os dedos de tanto escrever, participamos de audiências na Câmara dos Deputados, de inúmeras reuniões e mobilizações, estabelecemos parcerias, e criamos entidades que viessem a agregar e fortalecer a luta.
E aí veio a pandemia e todos achavam que as forças estavam adormecidas. Mero engano, aproveitaram esse momento infeliz e tramaram por debaixo do tapete uma aliança que gestou o “Acordo” que permitiu a taxação do sol.
Milhares de apaixonados pela geração distribuída se sentiram como eu, traído. Mas, a vida segue, o “Acordo” passou pela Câmara dos Deputados e agora está nas mãos do Senado, que por sinal, estão emendando o mesmo para tornar a geração distribuída ainda mais irreconhecível.
Me perdoem o desabafo, que faço degustando uma dose de cachaça e no embalo do hino “Garçom aqui, nessa mesa de bar você já cansou de escutar centenas de casos de amor…saiba que o meu grande amor hoje vai se casar mandou uma carta pra me avisar deixou em pedaços meu coração”
Por Daniel Lima é diretor da RDSol (rede de Negócios em Energia) e presidente da Associação Nordestina de Energia Solar (Anesolar).