07/12/2021 07:28
”De propagação de falácias sendo arquitetos da ilusão em busca do voto ingênuo, ou corrompido”
É preciso distinguir, com mais esforço do que antes, o que cada veículo de comunicação está divulgando no Brasil pós-eleição de 2018.
O fenômeno de os jornais, revistas, mídia eletrônica e radiofônica deixarem de se preocupar com os fatos (com exceções, claro) e dedicarem sua prioridade à forma como divulgam esses fatos começou a nascer quando Lula iniciou no país o conflito entre “nós” e “eles”, em um lamentável desserviço à causa da união nacional. Espalhou-se pelo Brasil uma separação que, se existia latente, tornou-se patente, motivando um quadro de enfrentamento entre brancos e negros, ricos e pobres, empresários e trabalhadores, altos e baixos, gays e héteros, gordos e magros. Toda sorte de discriminação possível veio à flor da pele, para seguir o “ensinamento” que vem desde Maquiavel, de “dividir para governar”.
A ditadura do politicamente correto amplifica o quadro em que vigora a pauta socialista segundo a qual tudo deve ser controlado e significa ofensa, criando narrativas e comportamentos que tolheram a alegria, a espontaneidade e até a criatividade dos brasileiros.
Pode-se afirmar que, de todos os males que este tipo de ação gera, restou, ainda, um outro componente que está afetando a alma nacional: o Brasil se tornou um país chato.
Hoje em dia há uma espécie de guerra de narrativas. Cada um tem a sua. Importa mais como se conta e se divulga a versão do fato do que este em si mesmo. Os que defendem a ideologia de esquerda, aparelhados dentro do Estado brasileiro depois de quase 14 anos de lulopetismo e seus satélites, levaram o país a um ponto em que a verdade passou a ser mero detalhe sem a mínima importância.
O que se observa, todavia, ao menos pelos que se preocupam em ouvir a voz das ruas, é que esse mundo, essa bolha em que vivem os defensores do politicamente correto e das narrativas manipuladas, quando não inventadas, está fora da realidade do que pensa e deseja a maioria do povo brasileiro.
O atual presidente da República significa o rompimento, a ruptura de um sistema corrupto instalado nas “instituições”, autoalimentado-se de inverdades transformadas neles próprios em fatos, com o apoio e propagação da tradicional mídia que vivia nababescamente com verbas públicas. A questão do “nós” e “eles”, das narrativas e das mentiras vendidas como verdades, ganhou uma dimensão que, como na fábula em que o rei está nu, os que vivem neste encarceramento mental não conseguem perceber: sua credibilidade, algo difícil de conquistar, corre para o descrédito, para o vazio de conteúdo, para o descaso.
Desde as manifestações de rua de 7 de setembro, que arrastaram multidões Brasil afora, clamando por liberdade e justiça verdadeira, os habitantes da bolha socialista tentam transformar aquilo que a maioria deseja em algo diferente de seu significado. Nesta escaramuça de “narrativas”, a luta pela justiça e liberdade de opinião virou golpe. Defesa do Estado de Direito virou “ato antidemocrático”, e defender a revolução proletária e a ditadura dos pobres virou “ato a favor da democracia”. Há muitos outros exemplos estampados na mídia que sente falta das verbas públicas.
Sabemos que no jornalismo de verdade não se briga com a imagem. Quem diz uma coisa diferente do que se vê na imagem desacredita a si próprio e à sua causa. A manipulação fica evidente.
O dito popular é claro: o pior cego é o que não quer ver. E todos que viram o que aconteceu e acontece diariamente e negam a realidade, produzindo sua própria narrativa, diferente daquilo que a população ordeira pensa, vão seguir achando que sua vontade, seu desejo, é o da maioria. E não é.
A melhor contribuição trazida à luz pela manipulação da verdade foi a constatação, pelos brasileiros, de que sua própria opinião não pode nem deve ser formada por jornalistas, professores, cientistas sociais e outros. Cada um deve apreender e aprender, por si, a distinguir o que é a realidade dos fatos e o que é a manipulação da informação para atender a interesses de minorais que tiveram seus privilégios limitados.
O ano que se aproxima trará aos holofotes muitas mentiras, inverdades, fatos inventados, distorcidos, sempre em favor dos interesses quase sempre escusos dos grupos que lutam pelo poder.
A contribuição que uma mídia sadia, aliada da verdade dos fatos, poderia trazer ao debate público está comprometida, viciada, exacerbada. Há, certamente, veículos ainda independentes e responsáveis que atendem ao princípio básico do jornalismo de reportar a realidade. E opinar sem predisposição partidária.
A busca pela informação correta e a análise isenta é hoje um anseio dos brasileiros que, graças aos excessos cometidos e em andamento contra a verdade e a realidade institucional do país, perceberam que são apenas objeto de massa de manobra. Estão mais atentos para ter posição formada sem a influência de “formadores de opinião” que são, na verdade, agentes da propagação ideológica da divisão social infiltrados nas redações e perante câmeras e microfones, disfarçados de jornalistas.
Há de se distinguir quem pratica o jornalismo de quem faz da prática do jornalismo um instrumento de tentativa de dominação da vontade popular. De propagação de falácias sendo arquitetos da ilusão em busca do voto ingênuo, ou corrompido.
Por Paulo Saab é jornalista, escritor, professor de Ciência Política e presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Cidadania.