Não vejo nada mais estratégico, urgente e indispensável pra se discutir nas eleições deste ano, do que a educação técnica e profissional de um lado. E de outro a educação pura e simples, escreve Onofre Ribeiro
03/05/2022 05:30
”É uma longa e penosa história que vem se sucedendo propositalmente”
Em pouquíssimo tempo teremos no Brasil um apagão de gente pra trabalhar. Tem gente. Tem emprego. Mas os dois não se encontram. Por que razão?
É uma longa e penosa história que vem se sucedendo propositalmente por causa da política. Eleitor bem escolarizado não vota em qualquer político de meia boca. É o que não falta. Simples assim. Mas nem adianta recordar isso porque todo mundo sabe que funciona desse jeito. Deseducar as gerações é uma missão que o Estado brasileiro vem exercendo com rara competência.
O nosso olhar é pro futuro próximo. Amanhã, diria. A crise de insegurança política que o país vive atrai uma imensa crise de insegurança jurídica. Isso significa redução dos investimentos internos e externos no país. No olhar mundial, o Brasil é o lugar ideal para se fazer investimentos.
Tem riquezas de matérias primas e tem um enorme mercado interno de consumo. Mas não tem gente educada para o trabalho moderno e nem a educação capacitadora. Os governos sempre souberam e sabem disso.
No Brasil o desemprego oscila entre 12 e 14 milhões de desempregados. A maioria nunca mais voltará ao mercado de trabalho. Por falta de qualificação.
Os governos não estão interessados em olhar pra isso pela razão de sempre: não interessa educar o eleitor!
Para os governos é melhor construir discursos políticos em cima de bolsas de ajuda social do que preparar gente para empregos qualificados. Bolsas viram votos na próxima eleição.
Há 10 anos um trator agrícola era uma máquina mecânica fácil de manobrar. Tudo no campo era mecânico. Hoje são conjuntos eletrônicos apoiados sobre conjuntos mecânicos. São programados para alta produtividade e rendimento. Conectados a complexos sistemas de dados. São de operação técnica e qualificada.
O velho tratorista dos antigos tratores não sabe nem subir na máquina e jamais compreenderá a cabine de comando moderna. Está definitivamente fora do mercado, apesar de ser um profissional. Mas, desqualificado pros tempos atuais.
Mas não é só na área das máquinas agrícolas. Em qualquer outro campo da indústria, do comércio da atividade humana, tudo caminho ou já é digital. O trabalho do futuro está ligado ao futuro do trabalho. Ainda não está completamente traçado. Mas sabe-se que jamais será como agora.
Encerro lembrando que a estimativa de crescimento produtivo no agronegócio em Mato Grosso praticamente dobra nos próximos 8 anos. Hoje agro é um guarda-chuvas onde cabem a indústria, a agroindústria, o comercio, os serviços e ampla margem de tecnologias. O mercado de trabalho praticamente dobrará a oferta nesses próximos anos. Sem gente pra trabalhar. Em todos os níveis. Incluindo o de graduação. Graduações apartadas do mercado. Abre-se vagas pra técnicos vindos de fora.
Não vejo nada mais estratégico, urgente e indispensável pra se discutir nas eleições deste ano, do que a educação técnica e profissional de um lado. E de outro a educação pura e simples. Do tipo soletrar “b” com “a”. Ou “2” + “2”.
Por Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.