Opinião – Ciranda, cirandinha

E o mundo gira, e o mundo gira, vai dando uma tonteira… Não se engane, solte sua mão e saia, mesmo que cambaleando. Aprume-se, enxergue o mundo real. Ainda temos chance. Escreve Luís Ernesto Lacombe

05/08/2022 07:44

”Querem transformar os cavaleiros do Apocalipse em bondosos senhores. E eles já não são quatro, estão em maior número”

Vladimir Putin e Xi Jinping, em Pequim, durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022.| Foto: EFE/EPA/ALEXEI DRUZHININ

A falta de critérios é tão perigosa. A falta de informações, a ignorância, a surdez e a cegueira seletivas, a hipnose, a ilusão, a ingenuidade, a fraqueza de caráter, a incapacidade de lidar com fatos… Tudo isso pode arrastar uma pessoa para o lado errado. O bem e o mal sempre existiram, e confundi-los, enxergar um no lugar do outro, não deveria merecer perdão. Talvez uma vez, uma vez apenas. Ou os enganados e os que se enganam voluntariamente seguirão entregues… E nunca entenderão coisa alguma, estancados em sua incapacidade de evoluir. Tadinha, ela não sabe de nada, não teve condições, não teve chance de saber, é manipulável, sugestionável… No fundo, bem lá no fundo, é uma pessoa tão bondosa, tão altruísta, generosa. Brada mentiras, inocentemente. Suas inclinações são para o bem, e nunca será má de verdade, mesmo de mãos dadas com a maldade.

Há tanta gente sendo formada, sendo forjada no ódio e na raiva, enquanto faz um coraçãozinho com os dedos. E entrelaça os polegares, abre as palmas das mãos, forma a pomba da paz. Dá tapinhas singelos no lado esquerdo do peito e manda beijinhos para malvadões, dá abraços apertados em demônios, enxergando ou querendo enxergar neles flores de formosura. Em nome do bem, o verdadeiro, o indisfarçável, é preciso interromper sonhos equivocados. As utopias endiabradas, infernais não podem mais conduzir ninguém.

Já entregaram o Nobel da Paz para o presidente americano que mais jogou bombas no Oriente Médio… Há uma confusão de sentimentos, de cores. E despejaram estranhamente da Casa Branca o homem-laranja, o malvadão dos malvadões, que não começou nenhum conflito armado. Seu discurso foi rasgado por mais uma intermediadora de grandes negócios, uma espécie de representante comercial, mestre em negociatas. É da turma que não sabe o que é paz, e nem a quer, que não sabe o que é recessão, incapaz até de definir o que é uma mulher. Um país conduzido pela senilidade de um governo, não de apenas uma pessoa. E o mundo sem Trump já deveria estar maravilhoso e “mais suave”.

Querem transformar os cavaleiros do Apocalipse em bondosos senhores. E eles já não são quatro, estão em maior número, arrastando incautos e seres odiosos por natureza. O que ainda podem os bons contra os maus, os doentinhos e aqueles de índole ruim? A espada afiada agora é uma agenda de maldades, cheia de florzinhas, de enfeites coloridos. “Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar”… Putin, Xi Jinping, Lula… Nações Unidas, OMS… Os alemães puxam a União Europeia para a roda, dão risadas. E o mundo gira, e o mundo gira, vai dando uma tonteira… Não se engane, solte sua mão e saia, mesmo que cambaleando. Aprume-se, enxergue o mundo real. Ainda temos chance.

 

 

 

 

Por Luís Ernesto Lacombe é jornalista e escritor. Por três anos, ficou perdido em faculdades como Estatística, Informática e Psicologia, e em cursos de extensão em administração e marketing. Não estava feliz. Resolveu dar uma guinada na vida e estudar jornalismo. Trabalha desde 1988 em TV, onde cobriu de guerras e eleições a desfiles de escola de samba e competições esportivas. Passou pela Band, Manchete, Globo, Globo News, Sport TV e atualmente está na Rede TV.