Opinião – Não podemos mais perder oportunidades de crescimento econômico

Podemos olhar com razoável otimismo as perspectivas do Brasil nos próximos 30 anos. Para isso, porém, será necessário fazermos escolhas certas e realizarmos políticas públicas eficazes. Escreve Fernando Valente Pimentel

08/08/2022 06:39

”Depende de todos nós concretizar o propósito de construir uma nação rica, próspera e socialmente justa”

Imagem ilustrativa. Foto: Pixabay

Na presente conjuntura global, fortemente impactada pela pandemia e, agora, pela guerra entre Rússia e Ucrânia, acirram-se as disputas por energia, insumos, petróleo, gás, carvão e commodities agrícolas, provocando a majoração dos preços mundiais desses produtos e pressões inflacionárias de toda ordem. Até as nações com tradição na estabilidade de preços, como os Estados Unidos e as da Europa, vivenciam o problema, que causa um aumento das taxas de juros, como já vem ocorrendo fortemente no Brasil. A única certeza neste momento é a incerteza sobre o que ocorrerá na economia mundial.

As novas disputas geopolíticas e geoeconômicas deverão resultar em um novo desenho no mapa mundial da produção. Não sabemos ainda o nível das transformações que viveremos, mas deverá haver mudanças significativas em áreas estratégicas, como da saúde, segurança nacional, espacial e cibernética. Outros setores da economia também deverão alterar-se diante do novo cenário, mas, a nosso ver, com intensidade menor. Como, no entanto, o comércio mundial é fonte de prosperidade para todos os povos, deverá seguir seu caminho de crescimento, talvez em menor velocidade. A globalização provavelmente também deverá ter redução em seu ritmo. A Ásia, com sua gigantesca população, continua como mercado muito relevante e polo mais dinâmico de desenvolvimento.

Os diagnósticos corretos são estratégicos para que, no cenário mundial difícil em que estamos inseridos, possamos enxergar as oportunidades, que são relevantes para o Brasil. Somos detentores de imenso potencial para ajudar o planeta nas áreas da segurança energética e alimentar e no âmbito da bioeconomia, descarbonização e créditos de carbono. Em todas essas frentes, temos significativas vantagens competitivas, que poderão contribuir para a retomada do crescimento, atração de investimentos e criação de grande número de empregos.

Assim, podemos olhar com razoável otimismo as perspectivas do Brasil nos próximos 30 anos. Para isso, porém, será necessário fazermos escolhas certas e realizarmos políticas públicas eficazes. Nessa trilha, reconhecendo a importância de todos os setores de atividade, cabe ponderar que a indústria é fundamental para que retomemos nossa trajetória de crescimento. Sem seu fomento e ganhos expressivos de competitividade, nossa economia terá expansão aquém do potencial, limitando as possibilidades de nossa maior inserção internacional na cadeia de valor de bens mais sofisticados e de nossa população ascender a um padrão de vida com melhor educação, saúde, cultura, ciência, tecnologia e sustentabilidade, que são as bases de uma nação verdadeiramente desenvolvida.

É necessária uma política industrial ancorada em P&D e que contemple linhas especiais de crédito, incentivos à produção e regime tributário que apoie os investimentos voltados à inovação, incluindo os bens de capital. Cabe ao governo, em parceria com o setor privado, fomentar a pesquisa e ciência nas universidades e institutos públicos, remover obstáculos burocráticos e promover incentivos nas áreas nas quais haja vantagens competitivas ou interesse estratégico. Também são fundamentais as reformas estruturantes, principalmente a tributária e a administrativa, para melhorar a estrutura do setor público, racionalizar os impostos e proporcionar melhor ambiente de negócios.

O fomento industrial também precisa ser aderente às novas tecnologias e às demandas da sociedade, investidores e consumidores. Assim, deve abranger uma política que insira o setor na chamada manufatura avançada, permeada pela digitalização da economia, inteligência artificial, internet das coisas, impressão 3 D, robotização e o conceito de ESG (Environmental, Social and Governance ou Meio Ambiente, Social e Governança Corporativa).

Nesse contexto, a indústria têxtil e de confecção nacional – que reúne todos os elos da cadeia produtiva e, apesar da queda da renda média da população, tem um grande mercado consumidor, considerando nossos 212 milhões de habitantes – pode e deve explorar todas as matrizes disponíveis nas áreas de matérias-primas renováveis, economia circular, manufatura avançada e ambiente de trabalho seguro e respeitoso. É um setor inserido na agenda da sustentabilidade, do combate às mudanças climáticas, utilização de insumos e energias mais limpos e renováveis e dos princípios de ESG.

O parque fabril brasileiro é um dos cinco maiores do mundo na área têxtil e de confecção e gerador de numerosos empregos. Hoje, emprega mais de 1,5 milhão de pessoas, representando cerca de 8% do total de postos de trabalho da indústria de transformação no país. Portanto, o setor tem todo o potencial de surfar nas ondas de possibilidades que a conjuntura histórica proporciona em meio às incertezas e crises globais.

Nosso país, numa mobilização proativa dos governantes, de todos os setores produtivos e da sociedade, não pode repetir a definição de Roberto Campos de que “o Brasil nunca perde a oportunidade de perder uma oportunidade”. Depende de todos nós concretizar o propósito de construir uma nação rica, próspera e socialmente justa.

 

 

 

 

 

Por Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).