Ranking Econômico 2022 – Agronegócio impulsiona MT na liderança do crescimento

O carro chefe de Mato Grosso, segundo levantamento, eleva o PIB do Centro-Oeste e com isso tende a liderar crescimento dos estados da região que ganham com alta da safra.

11/08/2022 07:20

Forte estiagem em 2021 ‘balançou’ setor
Retomada do crescimento se deve as altas demandas externas
PIB de Mato Grosso deve ter o maior crescimento entre os estados

Governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União) em rodada do agrobusiness na Expo Dubai realizada em Abu Dabi. Foto: arquivo Secom-MT

Um ranking realizado recentemente, aponta que os estados da região Centro-Oeste deverão ter o maior crescimento econômico neste ano, puxados pela agropecuária. Depois da estiagem em 2021, a produção agrícola voltou a acelerar, com previsão de recorde das safras de soja e milho. Estados que dependem de indústria e serviços, como São Paulo, devem ter crescimento moderado, dentro da média nacional, enquanto os do Sul devem ter contração, mostram projeções da Tendências Consultoria.

Segundo o levantamento feito pela consultoria, Mato Grosso estaria liderando o ranking com expansão de 5,6% neste ano, bem acima dos 3,1% de 2021. Mato Grosso do Sul vem em seguida, com crescimento de 4,6%, também acima do crescimento de 2021, de 3,6%.

“Em Mato Grosso, a projeção é explicada por recordes das safras de soja e milho e melhor desempenho para abates de carnes, decorrente da demanda externa por proteína animal. Além disso, a indústria mato-grossense vem mostrando desempenhos expressivos por causa dos setores de alimentos e biodiesel”, afirma Camila Saito, economista do setor de análise setorial da Tendências e uma das autoras do levantamento. “Em Mato Grosso do Sul, também teremos boa evolução da agropecuária. Ainda que a safra da soja tenha sofrido com a estiagem e deva apresentar queda, os fortes desempenhos [da produção] de milho e carnes devem mais que compensar.”

Ela acrescenta que as indústrias de ambos os Estados devem se beneficiar do cenário favorável para a produção de alimentos, celulose e biodiesel.

A pecuária mato-grossense é responsável por 35% do volume de carne exportado. Foto: mt.gov.br

Tanto Mato Grosso quanto Mato Grosso do Sul são Estados com baixa densidade industrial e grande densidade do agronegócio, o que explica essas projeções, afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores. Ele argumenta que, além da atividade do setor primário, lavoura e pecuária fazem indústria e serviços se movimentar nesses Estados. “É o agronegócio no sentindo mais amplo que traciona esses Estados.”

O peso do agrobusiness nas cadeias industriais e de logística desses Estados ultrapassa os 50%, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “O crescimento do agro acaba, portanto, ajudando a economia como um todo”, diz.

Vale argumenta que uma conjuntura favorável de forte alta de preços e taxa de câmbio muito favorável para a exportação deve levar esses Estados a destoar e crescer mais do que a média.

O efeito positivo do agronegócio para o crescimento também beneficia Estados próximos, como Piauí e Maranhão. “Não podemos dizer que se trata de uma nova fronteira, porque isso ocorre há 20 anos, mas esses Estados no entroncamento no Norte e no Nordeste têm produção de grãos forte que ajuda o PIB”, diz Vale.

O Piauí deve ter o terceiro maior crescimento, com expansão de 3,7% neste ano, ante 4,6% no ano anterior. O Maranhão deve expandir 3,1%, contra 4% do ano passado. O Tocantins deverá crescer 2,7%.

Segundo Camila Saito, Maranhão e Piauí foram beneficiados pelos preços internacionais de commodities desde 2020, que estimularam o aumento da área plantada. Também contribuiu de forma indireta a quebra de safra no Sul, que estimulou a produção no Norte de Nordeste.

“Soma-se a isso o aumento da massa de renda com transferências governamentais. A implantação do Auxílio Brasil e o aumento do valor pago devem beneficiar mais os Estados dessas regiões.”

O levantamento feito pela Tendências mostra ainda que partes da região Sul podem ter contração por causa da quebra de safra de grãos, devido à estiagem, e a baixa produção industrial de setores pró-cíclicos, como máquinas e equipamentos, e metalurgia, afirma Lucas Assis, coautor do estudo.

A perspectiva é que Santa Catarina se contraia 0,1%, depois de avançar 6,6% em 2021. O PIB do Rio Grande do Sul, por sua vez, deve cair 1% neste ano, após expansão de 8,6% no ano anterior. No ano passado, o Estado foi um dos destaques positivos devido à forte recuperação agropecuária, após quebra de safra em 2020, e boa evolução da indústria, diz Assis.

Vale afirma que, a depender do fenômeno climático La Niña, é possível que novas safras sejam afetadas e que o PIB de Estados do Sul volte a desapontar.

Para São Paulo, a projeção neste ano é de crescimento de 1,6%, após expansão de 4,4% em 2021. O Rio de Janeiro, por sua vez, deve crescer mais neste ano, com aceleração de 2,1%.

“O crescimento de São Paulo deve ficar ligeiramente abaixo da média nacional (1,7%), devido a um desempenho mais fraco da indústria, especialmente setores como o automotivo e o de bens de capital, que sentem mais os efeitos de pressões de custo de produção e escassez de insumos, decorrente do desbalanço das cadeias globais”, afirma Camila.

O crescimento maior previsto para o Rio se deve ao setor petroleiro, com destaque para as plataformas FPSO Carioca e FPSO Guanabara (cada uma com capacidade para processar 180 mil barris diários), e a expectativa de inauguração da nova unidade Peregrino II (60 mil b/d). O alta do petróleo no mercado internacional indica um futuro próximo promissor,

Para 2023, o cenário é positivo para produtores de soja, milho, algodão, carne, biocombustível e celulose, o que beneficia Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, afirma Camila. No Pará, deve haver recuperação da produção de minério de ferro, com expansão do complexo da Vale, e no Rio Grande do Sul, com a retomada da safra de soja.

Estados do Sudeste, contudo, devem ser mais atingidos no ano que vem. “Câmbio e preço ainda estarão favoráveis para Estados agroprodutores, em detrimento de outros que sofrerão com os juros acelerando”, afirma Vale.

 

 

 

 

 

De São Paulo, por Marsílea Gombata no Valor Econômico