Opinião – Capitalismo

Com a opção de comprarem um único produto, uma única cor, o bege, uma qualidade normalmente abaixo do padrão, obtido somente após longas filas, quando o produto estiver disponível ou não, exemplo Cuba. Escreve Stephen Kanitz

17/11/2022 10:09

”Que triste é esse mundo que nossos intelectuais estão deixando das suas vidas produtivas e deixando para seus próprios filhos e netos”

Reprodução.

Fico realmente preocupado quando vejo muitos da nova geração saindo de faculdades e universidades sem terem a menor noção de como o mundo funciona na realidade.

Poucos aprendem sobre as competências necessárias para serem os líderes que deveriam ser, a empreenderem, nem como criar uma família bem estruturada e educada saem sabendo.

Muitos desses jovens nem sabem o que significa capitalismo, a não ser que ele precisa ser eliminado ou tomado por violência.

O que chamam de capitalismo é na realidade um dos sistemas mais complexos criados na terra, tudo espontaneamente fruto das necessidades sociais do momento.

De fato, não é fácil de se entender e explicar.

É formado por 235 milhões de empresas, que magicamente conseguem se comunicar e fornecer a todos nós o produto certo, na cor certa, no tamanho certo, na hora que precisamos do produto, tudo nas prateleiras, com opções de variedade.

Muitas dessas como Cias. de Aviação, com 20.000 pessoas pilotando aviões, administrando as malas, as comidas, lidando com atrasos, mantendo os aviões seguros, uma loucura, também nada trivial.

Ou um hospital com médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, cirurgiões, prontos socorros, todos em contato entre si, a qualquer momento, uma loucura com o único intento de salvar vidas.

O mais impressionante é que são pessoas estranhas entre si, que não se conhecem, cada um com sua idiossincrasia, que conseguem ficar juntas oito horas por dia, cooperando entre si.

As 235 milhões de empresas se planejam, se coordenam, se comunicam diariamente e fazem trocas inteligentes exclusivamente por um sistema de preços.

Tudo é entregue e pago no dia certo apesar de serem bilhões de transações.

Achar que toda essa cooperação humana é que gera pobreza, é um insulto à inteligência.

Muitos ainda acham que derrubado esse sistema, seus incentivos e meios de comunicação, o outro sistema surgirá espontaneamente e irá conseguir replicar essas funções.

Um sistema de planejamento central, com economistas desenvolvimentistas, é ser terrivelmente ingênuo e irresponsável.

No terceiro ano de Faculdade procurei um estágio na Auditoria PricewaterhouseCoopers, que mudou a minha vida.

Em três meses auditei uma Cia. de seguros, a Atlas Copco, a enorme Volkswagen, um fundo de pensão, vi como o mundo funciona, e que a maioria estava contente trabalhando com um propósito além do dinheiro.

Pude ver quão complexo era tudo aquilo, e os anos que levaram para chegar naquele nível de eficiência e cooperação.

Milhares de áreas tinham defeitos, precisavam ser modificadas, mas essa é uma das características positivas do capitalismo, a capacidade de autocorreção.

Coisa que não ocorre no sistema que já implantaram em alguns países, e não muda há 50 anos.

Vejo com tristeza tantos jovens claramente alienados pelos seus professores sobre como funciona o mundo real.

E saem da faculdade com o objetivo de destruir um dos sistemas mais complexos, pulverizados, democráticos, jamais implantado na terra, sem saber o que estão colocando em troca.

Um sistema extremamente simples, linear, hierárquico, de cima para baixo centralizado em algumas estatais.

Com a opção de comprarem um único produto, uma única cor, o bege, uma qualidade normalmente abaixo do padrão, obtido somente após longas filas, quando o produto estiver disponível ou não, exemplo Cuba.

Que triste é esse mundo que nossos intelectuais estão deixando das suas vidas produtivas e deixando para seus próprios filhos e netos.

 

 

 

 

Por Stephen Kanitz, é um consultor de empresas e conferencista brasileiro, mestre em Administração de Empresas da Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo.