Transparência Internacional divulgou um estudo comprovando que a corrupção no setor de saúde em escala mundial chega a impressionantes 15% dos US$ 3 trilhões. Escreve Pedro Valls Feu Rosa.
11/07/2023 06:20
“O que nos dá a Administração? A Administração nos dá o que pensar”
Dizem alguns que a finalidade do Estado é servir o povo, administrando serviços como saúde, segurança pública etc. Outros, por sua vez, sustentam que o Estado, uma vez criado, passa a ter vida e interesses próprios, muitas vezes até contrários aos do povo. Quem terá razão?
Há não muito tempo uma senhora de 81 anos de idade morreu na Espanha, vítima de infarto, após aguardar 232 dias por uma consulta no serviço público de saúde. No Japão um senhor de 69 anos de idade sofreu um acidente de bicicleta e morreu após ter sido recusado em – acredite – 14 hospitais!
Estes dois episódios, realçados sob o pano de fundo das milhões de pessoas abandonadas pelos tristes corredores de alguns hospitais públicos pelo mundo afora, nos colocam a pensar no real empenho do Estado em proporcionar assistência médica digna ao povo.
A saída, por incrível que pareça, tem sido a caridade. Exemplifico com o caso da África, continente no qual a malária mata cerca de um milhão de seres humanos a cada ano, a maioria crianças. Estudos voluntários detectaram que apenas 2% delas dormiam protegidas por mosquiteiros adequados.
Seria de se esperar que diante destes dados os Estados – aqueles mesmos de tantos gastos supérfluos – fornecessem os mosquiteiros, tão simples quanto baratos. Mas que nada! Somente às custas de doações, a maioria delas conseguida pela ONU, foi possível passar de 2% para 20% o número de crianças protegidas por mosquiteiros – e isso ao longo de seis anos. O resultado: 125 mil delas deixaram de morrer a cada ano.
É assim que, segundo a Organização Mundial de Saúde, inacreditáveis 40% dos tratamentos de saúde no mundo são proporcionados por organizações religiosas! Eis aí um número vergonhoso para os Estados, que, para piorar, no mais das vezes não ajudam e ainda atrapalham o trabalho voluntário de tantos abnegados.
Nesta seara não nos esqueçamos dos desvios: em 2006 a Transparência Internacional divulgou um estudo comprovando que a corrupção no setor de saúde em escala mundial chega a impressionantes 15% dos US$ 3 trilhões correspondentes aos gastos totais.
Diante desta realidade só resta àqueles semelhantes nossos abandonados em um mundo de dor e tormento lembrar a famosa frase de Lothar Schmidt: “O que nos dá a Administração? A Administração nos dá o que pensar”.
Por Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.