Os tecnocratas fizeram uma ‘lavagem verde’ nas suas reputações por meio do compromisso publicamente proclamado com o chamado desenvolvimento sustentável. Escreve Luciano Trigo.
11/09/2023 08:28
“Fato é que muitas condições para a consolidação de uma governança tenocrática global já estão dadas.”
Quem tem olhos para enxergar percebe que já está em pleno curso no planeta um acelerado processo de transição para um novo sistema de governança global centralizada: a tecnocracia totalitária, que se caracteriza pelo controle total sobre a vida dos cidadãos, monitorada em todos os seus aspectos.
Dispondo de mecanismos de coerção para reprimir e silenciar qualquer dissidência e esmagar de uma vez por todas a liberdade de expressão, a ditadura distópica global terá o patrocínio dos megainvestidores internacionais e a supeervisão da ONU, além do apoio dos grandes conglomerados de mídia.
Haverá vigilância legal de todos os cidadãos e controle total de todas as compras e contas bancárias. Adeus liberdades individuais. Os valores e costumes tradicionais serão desencorajados e, com o tempo, criminalizados e punidos.
Com o pretexto da necessidade urgente de concentrar todos os esforços em um único objetivo, o novo Estado tecnocrático justificará a relativização ou mesmo a supressão de direitos básicos, como a liberdade de expressão e a liberdade de ir e vir. Cada ser humano será monitorado individualmente por redes de Inteligência Artificial (IA) que irão puni-lo ou recompensá-lo, dependendo do seu comportamento.
Não é ficção científica. Este objetivo único atende hoje pelo nome de “desenvolvimento sustentável” – expressão frequentemente associada a outras, como “economia verde” e “capitalismo de stakeholders”. É esta a justificativa para a tecnocracia global ascendente se sobrepor à soberania dos governos nacionais e à autodeterminação dos povos.
Os tecnocratas afirmam que o desenvolvimento sustentável é a única maneira de superarmos a crise climática que assola o planeta. Afirmam, também, que os seres humanos são os únicos responsáveis responsáveis por essa crise, que demanda uma solução urgente e um compromisso político global.
Governos do mundo inteiro devem abrir mão de suas prerrogativas como Estados-nação e aderir incondicionalmente aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) divulgados pela ONU e transformados em imperativos políticos nacionais.
A China, com seu sistema de créditos sociais e outros mecanismos de controle e coerção, está na vanguarda desse processo, mas o modelo que ela adotou será gradativamente imposto a toda a humanidade, sem qualquer resistência.
Quem afirma tudo isso não sou eu: é o jornalista britânico Iain Davis, autor dos livros “A dangerous ideology” (“Uma ideologia perigosa”, 2018) e “Pseupandemic” (“Pseudopandemia”, 2021). Em uma série de artigos publicados em seu blog, Davis faz uma análise original perturbadora da geopolítica internacional. Os céticos e os cínicos dirão que é teoria da conspiração. Mas… E se não for?
Segundo Davis, para que a tecnocracia global seja implantada, a autoridade dos tecnocratas precisa primeiro ser reconhecida e consolidada, com a colaboração de governos, organizações intergovernamentais e empresas multinacionais, em uma espécie de “Parceria público-privada global (G3P)”, interligada com o propósito de construir um sistema único de governança planetária. É a fase na qual estamos.
Fato é que muitas condições para a consolidação de uma governança tenocrática global já estão dadas. Davis cita como sinal deste fenômeno o poder crescente…
– da Organização Mundial de Saúde (OMS), sobretudo a partir da pandemia de Covid 19;
– da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), capaz de dificultar o acesso de determinados países ao desenvolvimento tecnológico;
– da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que coordena políticas econômicas de diferentes países;
– da Organização Mundial do Comércio (OMC), que controla o comércio global por meio dos acordos internacionais que supervisiona;
– do Banco de Compensações Internacionais (BIS), que coordena a política monetária global e o fluxo de capitais;
– e, evidentemente, da própria ONU e seus órgãos e programas subsidiários, como a UNESCO, que fixa diretrizes globais para a educação (diretrizes que já estão permeadas pela agenda woke), bem como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PUMA – que, sempre segundo o autor, são responsáveis pela “apropriação dos bens comuns globais e pela financeirização da natureza, através de mecanismos como a regulação do mercado de créditos de carbono”. Os 17 ODS são controlados principalmente pelo PNUD e pelo PNUMA.
“O consenso científico global sobre as alterações climáticas é administrado centralmente – e os fluxos de financiamento são atribuídos pelo Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU”, complementa Davis.
E vai além: “Os indivíduos poderosos que estão impulsionando o projecto G3P incluem um grupo heterogêneo de poluidores em massa, barões ladrões, grileiros de terras e os principais expoentes mundiais da exploração dos trabalhadores, da manipulação do mercado, da extorsão monetária e da opressão.
“Eles formam o que em outra época seria considerado um cartel criminoso, mas fizeram uma lavagem verde nas suas reputações por meio do seu compromisso publicamente proclamado com o chamado ‘desenvolvimento sustentável’. Embora seja muitas vezes referida como ‘a elite’, uma descrição mais adequada deste conjunto de ladrões é ‘a classe parasita’”.
Davis conclui: “O G3P conseguiu convencer centenas de milhões de cidadãos em todo o mundo de que está empenhado em um ambientalismo sustentável – e que o seu principal desejo é “salvar o planeta”. Na verdade, o objetivo do G3P é impor à humanidade a tecnocracia e a governança global, por meio das agendas políticas associadas aos ODS.
“Para requisitar, mercantilizar, auditar e, em última análise, dividir os recursos da Terra entre si, os investidores capitalistas que estão no centro do G3P também precisam do controle tecnocrata dos seres humanos em todo o mundo. Quando a humanidade acordar e finalmente descobrir o que aconteceu, a tecnocracia já terá o poder de eliminar toda resistência através do controle literal da população”.
No futturo, conclui Davis, o mundo não será mais governado por políticos eleitos, mas por tecnocratas cujas decisões irão se soprepor à vontade popular e às escolhas dos parlamentos. Será o fim da política como (ainda) a entendemos hoje.
“Como o G3P conseguirá eliminar os direitos humanos em todo o mundo?, você pode perguntar. A justificativa para a nossa escravização já foi estabelecida: os riscos de biossegurança e a devastação ambiental que ocorrerão se não obedecermos cegamente aos nossos senhores globais”.
Por Luciano Trigo é escritor, jornalista, tradutor e editor de livros. Autor de ‘O viajante imóvel’, sobre Machado de Assis, ‘Engenho e memória’, sobre José Lins do Rego, e meia dúzia de outros livros, entre eles infantis.