Opinião – É o agro, moço!

O governo parece não saber que o Brasil se tornou, graças ao agro, o grande produtor da mais nobre energia do mundo: o combustível que move o corpo humano – comida. Escreve Alexandre Garcia.

 

05/03/2024 10:11

“O problema é que certas cabeças estão presas ao século passado”

Agronegócio, um dos setores mais criticados pelo presidente Lula, foi o grande motor do crescimento do PIB em 2023. Foto: Lineu Filho.

O PIB ficou acima da expectativa e o governo festejou, como se tivesse sido o motor da façanha. O presidente, o vice e o ministro da Fazenda vibraram como se fossem os goleadores. E perderam uma excelente oportunidade de se aproximar do agro. Todos sabem que este governo não gosta do agro e que a recíproca é verdadeira. No ano passado, o presidente Lula chamou o agro de fascista, negacionista e mau-caráter. O agro respondeu com um crescimento de 15,1%, segundo o IBGE, garantindo o resultado de quase 3% de crescimento do PIB no seu primeiro ano de terceiro mandato. Seria a chance para o presidente ressaltar a contribuição do agro para as exportações, as divisas que permitem importar, a garantia alimentar dos brasileiros e o orgulho de ajudar a alimentar o planeta.

Mas calou-se e manteve a porteira aberta do agro para Jair Bolsonaro, que pessoalmente nesta terça-feira confraterniza com a importantíssima feira internacional Expodireto, na capital da agricultura de precisão, Não-me-Toque – um nome bem significativo em tempos em que querem tocar no ex-presidente. Bolsonaro não pediu para Lula calar sobre o agro. Foi o fígado de Lula que omitiu o elogio merecido a quem fertiliza a terra com seu suor. O amor de Lula é o MST, e ele não foi infiel. O vice Alckmin, também ministro da Indústria e Comércio, amargou uma queda de 1,3% na indústria de transformação e um 0,5% negativo na construção, mas foi incapaz de ressaltar a importância do agro, sua agroindústria e o comércio exterior que ele gera, engordando nosso balanço de pagamentos.

O ministro da Fazenda falou como se tivessem sido os gastos públicos exagerados, que geraram déficit e aumentaram a dívida pública, os fatores que garantiram um PIB de 2,9%. Chegou a se vangloriar dos resultados da inflação, dentro da meta, omitindo que o responsável pelo esforço de proteger a moeda e o crédito de um governo gastador é o Banco Central, felizmente independente, bem dirigido pelo brilhante Roberto Campos Neto. A propósito, o ministro poderia agradecer a Campos Neto por ter garantido o bom nome do Brasil na preparatória do G20 em São Paulo, já que Haddad surpreendeu os estrangeiros com a antiga cantilena esquerdista de taxar os super-ricos do mundo.

O governo deveria olhar com cuidado os números do ano passado: investimentos caíram de 17,7% do PIB para 16,5%, o que é preocupante, assim como a poupança diminuiu de 15,8% do PIB para 15,4. Mais preocupante ainda foi a falta de chuvas na safra 2023/24 no Centro-Oeste. A colheita da soja pode ficar 17% abaixo do previsto, com consequências no milho. Soja e milho foram os principais autores dos 15,1% a mais do ano passado. O governo parece não saber que o Brasil se tornou, graças ao agro, o grande produtor da mais nobre energia do mundo: o combustível que move o corpo humano – comida. Carnes, soja, milho, açúcar, sucos, algodão, que saem de grandes produtores que também são agricultores e produtores familiares. O problema é que certas cabeças estão presas ao século passado. Tão presas que são incapazes de reconhecer até quem lhes entregou um PIB de mão beijada, a despeito da insegurança jurídica e fundiária, filha do Estado brasileiro.

 

 

 

 

 

Por Alexandre Garcia, escreve colunas sobre política nacional publicadas de domingo a quinta-feira.

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