Opinião – Paletó e a lamentável cegueira do TRF

Como podemos tolerar um prefeito que zomba da nossa inteligência ao afirmar que está sendo vítima de uma injustiça? Escreve Luiz Fernando Amorim.

17/03/2024 06:01

“O Brasil viu o então deputado Emanuel Pinheiro colocando muito dinheiro público nos bolsos”

Reprodução.

Eu vi, tu viste, ele viu, mas a justiça continua cega. Mato Grosso viu e reviu centenas de vezes o prefeito do paletó Emanuel Pinheiro encher os bolsos de dinheiro, supostamente propina, como declarado nos autos, em delação, e até mesmo na Câmara de Vereadores de Cuiabá pelo ex-governador Silval Barbosa.

Eu ainda vejo, tu também vês, nós vemos, vós vedes, eles ou elas veem. Mas, o Poder Judiciário continua cego! O Brasil viu, através de noticiário exibido em horário nobre as imagens do então deputado Estadual Emanuel Pinheiro colocando muita grana, dinheiro público nos bolsos.

Em uma reviravolta irônica e revoltante demais, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) decidiu fechar os olhos para o flagrante indício de corrupção.

A decisão choca a sociedade ao acolher o pedido do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), para trancar a ação penal que o investigava por crimes de corrupção passiva e associação criminosa.

O ato cruel era Emanuel colocando maços de dinheiro nos bolsos do próprio paletó. A cena é tão grotesca que parece tirada de um roteiro de má qualidade, mas infelizmente, é a realidade nua e crua da política brasileira.

Diante da contundência das imagens, seria de se esperar que a Justiça agisse com firmeza e rapidez para punir esse ato de corrupção flagrante. No entanto, ao invés disso, testemunhamos a justiça não dando nenhuma importância ao dinheiro da suposta propina.

Não é como se fôssemos forçados a acreditar que o dinheiro simplesmente cai do céu e se materializa magicamente nos bolsos de Emanuel. Isso o TRF não se mostrou interessado, a brecha jurídica empregada aqui é o vergonhoso pacote Anticrime, do qual defende que uma gravação clandestina, feita sem qualquer autorização judicial e sem o prévio conhecimento das autoridades persecutórias não pode ser empregada como prova de crime.

Esse argumento acatado causa ferida de morte, é o fim da esperança de um país que anseia por menos corrupção. Vivemos na era da grande crise do Poder Judiciário que aceita as muitas brechas jurídicas com leis medíocres que punem inocentes, neste caso a sociedade, e absolvem corruptos.

Mas a ironia não para por aí. O deboche do prefeito ao afirmar que “a justiça foi feita” ao ser favorecido pela decisão do TRF1 é o ápice da hipocrisia.

Como podemos aceitar e compreender um sistema que fecha os olhos diante de evidências tão claras de corrupção? Como podemos tolerar um prefeito que zomba da nossa inteligência ao afirmar que está sendo vítima de uma injustiça?

Enquanto cidadãos comuns pagam pesados impostos e clamam por menos impunidade, o prefeito do paletó desafia a verdade com um sorriso cínico nos lábios.

Ainda tenho fé que a suspensão não tenha como resultado o trancamento da ação, se esta tragédia ocorrer, se chegar ao STF e nenhuma punição for creditada ao prefeito do paletó, Mato Grosso e o Brasil seriam castigados com a dor que cega.

Não podemos fechar os olhos e nem ser calados diante de poderosas influências políticas. Jamais vamos esquecer as imagens do paletó cheio de dinheiro que traiu a confiança do povo.

Ainda que a Justiça permanece cega o “Caso Paletó” permanece como um lembrete sombrio da falência moral e ética que assola nossa Cuiabá.

 

 

 

 

 

Por Luiz Fernando Amorim é vereador por Cuiabá

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