A ministra do Planejamento, Simone Tebet, está reconhecendo que não consegue revisar os gastos públicos. E não vai conseguir nunca. Escreve Alexandre Garcia.
03/04/2024 06:54
“É muito complicado conseguir exercer a democracia nesse país”
A ministra do Planejamento, Simone Tebet.| Foto: Edu Andrade/Ministério da FazendaAs contas públicas são, hoje, o assunto mais grave para o governo. E elas não param de piorar, com o déficit crescendo e a arrecadação caindo. A economia não está estimulada; o governo briga com o agro, que é o principal motor da economia brasileira e das contas externas. Agora, o Banco Central está tendo de interferir no dólar, o que representa um desprestígio da economia brasileira. O dólar chegou nesta terça-feira a R$ 5,06. É muita coisa.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, está reconhecendo que não consegue revisar os gastos públicos. E não vai conseguir nunca, porque este é um governo inchado, movido a propaganda, a fazer favores, a fazer estímulos, movido a atividades ditas “culturais” que na verdade são shows artísticos, e a cultura nacional é muito mais que isso. Tudo isso é muito dinheiro. Uma medida provisória acaba de caducar, e só ela representa mais R$ 10 bilhões que o governo deixou de tirar das prefeituras. Pretendia cobrar imposto sobre a folha de pagamento das prefeituras, mas não vai mais fazer isso porque o Congresso não aprovou essa MP.
Julgamento de Sergio Moro é nova tentativa de calar o eleitor do Paraná
E é uma questão atrás da outra. Por exemplo, o uso de dinheiro público para sustentar partidos políticos. Isso veio à tona no julgamento de Sergio Moro, que será retomado nesta quarta-feira em Curitiba, no Tribunal Regional Eleitoral. O próprio relator, o desembargador Luciano Falavinha, disse que os partidos que tiveram candidatos à Presidência da República – os dois partidos que estão denunciando Moro, o PT e o PL – fizeram com o dinheiro público a mesma coisa que fez o Podemos com Moro.
O que é isso, então? É vingança. Os políticos não gostam de Moro porque, depois que a Polícia Federal e o Ministério Público descobriram as falcatruas, ele condenou os corruptos. E as condenações foram confirmadas pelo Tribunal Regional Federal, que revisa os processos; os apelos que foram ao Superior Tribunal de Justiça foram recusados. Então, duas outras instâncias confirmaram as decisões de Moro, mas querem se vingar.
Moro foi o símbolo, numa determinada época, de que esse não era mais o país da impunidade, que não haveria mais corrupção. Mas a corrupção reagiu e está aí de volta, querendo punir 1 milhão e 953 mil eleitores de Moro. Se ele for cassado, esses eleitores também serão cassados no seu voto. Isso é uma vergonha para a democracia. Já fizeram isso com os eleitores de Deltan Dallagnol. É vingança. É muito complicado conseguir exercer a democracia nesse país; tirar o voto do eleitor não é exercer a democracia.
Escreve Alexandre Garcia, colunas sobre política nacional publicadas de domingo a quinta-feira.