Na democracia não se exige qualidades dos políticos, basta que tenham votos e para tê-los precisam de lábia para ludibriar os eleitores. Escreve Renato de Paiva Pereira.
15/04/2024 05:29
“Conclusão: quando aumentamos os juros, ficamos com os piores clientes”
A Seleção Natural, conforme a teoria da Evolução das Espécies de Darwin, cuida de preservar as características úteis para o indivíduo ou o grupo e descartar as indesejadas ou inúteis. Com alguma imprecisão, diz-se que só os melhores sobrevivem e deixam descendentes. Os ineptos ficam pelo caminho.
Há um processo em economia chamado “Seleção Adversa” que é oposto da seleção natural. Ele embora consiga separar coisas certas das erradas, por falta de informações adicionais, preserva as ruins e elimina as boas.
A definição das taxas de juros em empréstimos ilustra bem. Um banco aumenta as taxas para compensar as perdas que vêm dos maus pagadores. Com o aumento ele afugenta os bons clientes, que migram para outras instituições. Assim, os empréstimos concentram-se nos maus pagadores, o que aumenta os calotes.
Outro exemplo: Se os planos de saúde ao fixarem os preços das mensalidades considerarem valores muito parecidos para todos os clientes (idosos, jovens, saudáveis e com comorbidades, etc.) arriscam as ficar com os mais onerosos. O cliente sabe de sua real necessidade de assistência médica melhor que a empresa. Assim os mais doentios contratarão planos e os sadios que gastam pouco com doenças terão pouco interesse.
O que isso tem a ver com política? O País, Estados e Prefeituras oferecem aos candidatos a cargos executivos e legislativos bons salários, despesas pagas (reais ou fictícias), status elevado e principalmente a possibilidade de enriquecerem com negociatas.
Além disso, garante que eles só serão julgados pelas sacanagens cometidas com autorização de seus colegas e em tribunais especiais, o tal foro privilegiado.
Por conta de todas essas vantagens principalmente as ilícitas e também porque quase não há exigências para os candidatos, certamente a maioria dos concorrentes aos cargos oferecidos serão de baixa competência, cheios de más intenções e dispostos a gastar mundos e fundos para conseguir essa boquinha.
Conclusão: quando aumentamos os juros, ficamos com os piores clientes; nivelando o preço dos planos de saúde, escolhemos os mais doentes; não exigindo qualificação ou princípios éticos dos políticos, atraímos os piores quadros para conduzir o país.
Isso é democracia e ela é uma M. (desculpem a vulgaridade) só que outras formas de governo: ditaduras de esquerda ou direita, teocracias, oligarquias, monarquias, etc. são piores.
Na democracia não se exige qualidades dos políticos, basta que tenham votos e para tê-los precisam de lábia para ludibriar os eleitores, torpeza nas promessas mirabolantes e, algumas vezes, dinheiro para comprar votos.
Essa é a Seleção Adversa, tal qual os planos de saúde e juros bancários citados acima. Abrimos a porteira para entrar qualquer um e a realidade tem mostrado que, na hora de votar, escolhemos os piores. A despeito dos males viva a Democracia, que nos dá a chance de trocar os mandantes a cada quatro anos, mesmo que por outros piores.
Parabéns aos políticos que conseguem se manter limpos neste ambiente impuro.
Por Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.