Opinião – “Desastre total”

Ao imaginar que ainda tem popularidade, o presidente escancara o golpe verdadeiro que a mídia faz de tudo para ocultar. Um desastre total para o sistema! Escreve Rodrigo Constantino.

03/05/2024 11:17

“Nem mesmo a militância foi capaz de “passar pano” para o fiasco do Dia do Trabalho”

Evento com Lula teve público de menos de 2.000 pessoas.| Foto: Reprodução/Globonews

Não foi apenas Lula que ficou irritado com a ausência de povo no evento do Dia do Trabalho. Sua militância nas redações dos jornais também. Incapazes de esconder o fiasco, os blogueiros petistas quase imploraram para o presidente desistir de disputar público com o ex-presidente Bolsonaro.

Foi o caso de Vera Magalhães. Em sua coluna no Globo, a petista chamou de “desastre total” o evento, que não contou com a participação popular e ainda teve desrespeito às regras eleitorais.

Vera chama de “flashmobs” as manifestações sempre lotadas de Bolsonaro, e diz que o aspecto orgânico é menos relevante do que a “mobilização digital” e “grandes doses de arregimentação minuciosamente cuidada”. Balela, claro. Bolsonaro atrai multidões pois é popular, ao contrário de Lula, que conta com todo o aparato estatal e nem assim consegue colocar mais de duas mil pessoas em evento.

A blogueira petista teme a comparação das imagens e as “narrativas” bolsonaristas, que apontam com estranhamento o fato de que o impopular venceu o popular: “Ao se lançar numa disputa pueril para ver quem reúne mais apoiadores, Lula corre o risco de ficar com a foto de eventos esvaziados, como no último feriado. E aí a farra narrativa comerá solta nas redes, evidentemente”.

Vera lembra que Bolsonaro está inelegível, ignorando que se trata de clara perseguição política, e dá a entender que o “sistema” já resolveu a parada, sugerindo que Lula fique restrito aos eventos oficiais: “O presidente da República dispõe de eventos oficiais e de inúmeras oportunidades menos arriscadas para se comunicar com o eleitorado e mostrar as realizações de sua administração, quando elas existirem e se sustentarem”.

O que a militância petista disfarçada de jornalismo deseja é manter as aparências de normalidade democrática enquanto, na prática, está em curso no país o verdadeiro golpe da “democracia de gabinete”. É quase como se os assessores informais de Lula na imprensa gritassem: “Fique quietinho, presidente, e deixa que a juristocracia e a mídia façam o trabalho sujo”. Lula não tem povo, mas tem o consórcio…

Vera não foi a única a reclamar. Até Daniela Lima, que só falta apresentar seus programas usando uma estrela vermelha na testa, chamou de “o maior tiro no pé” o ato lulista. “Não é tamanho de ato para estar lá o presidente da República”, lamentou a petista. “Sabe o que isso consolida?”, perguntou a militante, e respondeu: “A ideia de que o Bolsonaro coloca gente na rua e o Lula não”. É só uma ideia, não é mesmo?

Na Band, Eduardo Oinegue também criticou o presidente pelo afastamento entre governo e povo, mencionando a pauta da desoneração dos setores. Lula diz que quer desonerar os pobres, não os ricos, mas como aponta o apresentador, todos sabem que esses setores geram quase dez milhões de empregos. Lula adota retórica pouco convincente e o trabalhador sabe disso.

Enfim, nem mesmo a militância foi capaz de “passar pano” para o fiasco do Dia do Trabalho. Um “desastre total”. O sonho da velha imprensa era manter Lula num porão até o final de seu mandato. Lula foi o “mal necessário” para tirar Bolsonaro, com a ajuda suprema confessada pelos próprios ministros do STF. A militância jornalística está em apuros, pois Lula não ajuda na farsa. Ao imaginar que ainda tem popularidade, o presidente escancara o golpe verdadeiro que a mídia faz de tudo para ocultar. Um desastre total para o sistema!

 

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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