Opinião – A multiplicação do agro

Enquanto a turma do agro do hemisfério norte fica fazendo bonecos de neve, nós aqui nos trópicos estaremos plantando uma segunda ou terceira safra. Escreve Arno Schneider.

01/06/2024 05:55

“São 21% com pastagem, 8% com agricultura e 1% com florestas plantadas”

Divulgação/reprodução.

A Embrapa Territorial tem divulgado dados da utilização das terras no Brasil. São utilizados 21% com pastagem, 8% com agricultura e 1% com florestas plantadas. Preservadas com a vegetação original temos aproximadamente 67% da área total do país.

Em média, as fazendas mantêm 33% de suas áreas preservadas na forma de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente. O código florestal é observado e aceito pela maioria dos proprietários.

Planetariamente, a utilização territorial seria aproximadamente assim: 67% são oceanos e 33% área continental, da qual devemos descontar as áreas sem condições ambientais para a produção: continente Antártico, Groelândia, desertos, cadeias de montanhas e áreas geladas incluindo o permafrost do Canadá, da Sibéria e do Alasca. Das áreas potencialmente produtivas, ficam ainda de fora os parques nacionais, unidades de conservação, áreas indígenas, entre outras.

Da área global, são utilizados apenas 4%, o que corresponde a 12% da área continental.

Difícil de imaginar que possa haver uma influência significativa da produção agropecuária nas mudanças climáticas.

Qualquer estudo sobre a influência da atividade humana no clima da Terra deverá se concentrar basicamente na extração, refino e queima de combustíveis fósseis (gás, carvão e petróleo).

Até umas décadas atras a agricultura mundial era feita no hemisfério norte. Importávamos boa parte de nossos alimentos. A agricultura tropical era olhada com desdém. Foi quando surgiu com força a pesquisa agropecuária, que aliada à competência e ousadia do nosso agropecuarista, permitiu esse incrível avanço em pouco mais de quatro décadas. Passamos de importadores para o maior exportador de alimentos do planeta.

A tecnologia de plantar uma segunda safra numa mesma área com o mesmo maquinário e mesma mão de obra batizada de “safrinha” vem avançando tecnologicamente todos os anos. Estima-se que o Brasil esteja plantando uma vez e meia a sua área disponível para grãos e fibras. Para cada 100 hectares estamos plantando 150 hectares. Isso não existe no hemisfério norte fora da faixa tropical.

Duas novas tecnologias vão turbinar ainda mais esse percentual: a irrigação e o recente projeto saído das fornadas da Embrapa denominado “Antecipe”.

A irrigação já é uma realidade no Cerrado brasileiro e promoverá a nossa auto suficiência em trigo, além de proporcionar o plantio de três safras anuais com total segurança climática.

Já o projeto “Antecipe” propõe plantar o milho safrinha nas entrelinhas de cada duas linha de soja 20 dias antes da colheita. O projeto exigiu adaptações das plantadeiras. Essa antecipação e ampliação da janela do plantio promoverá uma significativa segurança climática para toda safrinha nacional.

O avanço tecnológico da pecuária vai promover a cessão de milhões de hectares de pastagens para a agricultura. Considerando que cada hectare adicionado vai resultar em quase dois hectares plantados, dá para imaginar o tamanho do agro nessa próxima década.

Enquanto a turma do agro do hemisfério norte fica fazendo bonecos de neve, nós aqui nos trópicos estaremos plantando uma segunda ou terceira safra.

 

 

 

 

 

Por Arno Schneider é engº agrº e pecuarista.

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