Opinião – Oi, Guga. Ou: E a tranquilidade não veio…

A ameaça crível de uso do porrete é crucial para qualquer estratégia diplomática eficaz, que ofereça a cenoura como “soft power”. Escreve Rodrigo Constantino.

04/06/2024 16:11

“Não é preciso ser gênio para compreender isso”

Ex-presidente americano Donald Trump durante julgamento em tribunal de Nova York em 13 de maio.| Foto: EFE

Apenas em manchetes de hoje, temos: 1. Foguetes lançados pelo Hezbollah provocam incêndio no norte de Israel; 2. Presidente sul-coreano aprova suspensão do acordo militar de 2018 com a Coreia do Norte; 3. Ucrânia utiliza pela 1ª vez armas ocidentais para atacar alvos no território russo. As três estavam ao mesmo tempo no quadro de destaque “Saiba Agora” da Gazeta do Povo. Ou seja, tudo junto, no mesmo momento basicamente.

Se voltarmos apenas uma semana no tempo, teremos coisas assim também: China faz manobras militares em Taiwan após posse de presidente separatista e promete ‘sangue escorrendo’. Trocando em miúdos, o mundo anda bem tenso, os conflitos estão escalando, alguns analistas já temem um clima de Terceira Guerra Mundial. O que aconteceu?

É hora de resgatar a previsão do analista do Globo Guga Chacra, feita em janeiro de 2021: “O mundo ficará mais suave sem Trump. Acabou o pesadelo da era Trump. Pode-se criticar Biden (e tenham certeza de que criticarei muito quando for necessário). Mas é uma pessoa normal. Trump era mau”. Esse tipo de pensamento, infelizmente, era muito comum na elite cosmopolita “progressista”, ambiente em que Guga se sente em casa.

A profecia envelheceu muito mal, claro. E cabe, aqui, não “tirar sarro” do analista que erra tudo, mas sim refletir sobre o motivo de tantos erros absurdos, até mesmo infantis. O fato de ter gente que pensa como o Guga no comando dos Estados Unidos é algo assustador, e compreender isso é importante para saber como reverter esse quadro sombrio.

Para efeito de síntese, tentarei explicar o que entendo como o principal equívoco nas premissas desses esquerdistas com uma frase: quando o xerife do mundo se mostra frouxo, os inimigos da liberdade ficam mais ousados. Ou, numa outra frase lapidar que desejo um dia usar como minha última tatuagem: “Si vis pacem para bellum”, ou seja, se quer paz prepare-se para a guerra.

Há gente ruim no mundo. Ponto. E nem tudo é questão de dinheiro, como pensam os “liberais” materialistas. Bin Laden era multimilionário, para dar um exemplo. Logo, mandar malas de dinheiro para regimes nefastos como o Irã não vai trazer paz ao mundo, não vai seduzir os corações de aiatolás xiitas, assim como fazer acenos bobos para ditadores comunistas só atrai humilhação e desejo de agredir o Ocidente ainda mais.

Falta ao grupo do Guga clareza moral, realismo e coragem para admitir o que deve ser feito para se preservar alguma paz possível no mundo. Mas as prioridades ocidentais andam esquisitas, por conta justamente dos esquerdistas. Até as Forças Armadas americanas estão mais preocupadas em ficar bem na foto do que em demonstrar força perante o mundo tomado por malucos e ressentidos contra a América.

É a fórmula do fracasso. Trump, o “homem mau” porque escrevia tweets “ofensivos”, mostrava-se imprevisível para os inimigos do Ocidente, capaz de apertar o botão vermelho bem maior do que aquele do tirano atômico psicopata da Coreia. E, no entanto, apesar ou por causa disso, houve relativa paz no mundo, Trump não precisou iniciar qualquer guerra. A ameaça crível de uso do porrete é crucial para qualquer estratégia diplomática eficaz, que ofereça a cenoura como “soft power”. Não é preciso ser gênio para compreender isso. Basta não ser um bobão infantiloide.

 

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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