Já faz mais de 5 anos que escrevo artigos sobre este equívoco. Atualmente diversos cientistas do clima nacionais e internacionais estão alertando para o problema. Escreve Arno Schneider.
19/06/2024 07:02
“Recentes pesquisas da Embrapa confirmaram um saldo positivo no carbono”

Foto: João Laet
Foi recentemente realizada no Brasil a Conferência Internacional de Segurança Alimentar. Um dos palestrantes convidados foi o professor Myles Allen, da Universidade de Oxford, considerado o principal cientista do metano do planeta, reconhecido pela elite científica global e pelo IPCC (Painel do Clima).
Participou na conferência do painel intitulado “O Papel Social da Carne”, onde foi debatido também a influência climática da pecuária.
Seu foco foi a revisão das métricas utilizadas e recomendadas pelo Painel do Clima, para o cálculo do metano e o tratamento dado à pecuária na agenda do clima, que para ele estão ultrapassados e equivocados.
Na verdade, trata-se de um erro aritmético primário e tão evidente, que me faz pensar até num ato premeditado e tendencioso, prejudicando a imagem da pecuária.
Allen afirma, que tratar o metano como se fosse CO2, em que cada molécula adicional emitida provoca o aquecimento da atmosfera “basicamente para sempre”, está totalmente fora da realidade científica. Já o metano eructado sobrevive apenas 10 anos ativo na atmosfera.
O GWP–100, métrica recomendada pelo Painel do Clima, para a apuração do balanço do carbono da pecuária, não reconhece esse diferencial de 10 para 100 anos.
Alerta também que tratamos o arroto bovino como se fosse um poço de petróleo, cujas emissões de CO2, promovidos pela extração, refino e queima do petróleo, permanecem na atmosfera por várias centenas de anos.
O boi por sua vez, consome o CO2 capturado via fotossíntese pela pastagem, e que após ingerido pelo animal, passará por um processo de fermentação no rúmen do bovino produzindo e eructando metano, que logo em 10 anos, voltará a ser a mesma molécula de CO2 que residia antes na atmosfera (carbono biogênico).
Junte todas essas variáveis: molécula do metano ativa somente por 10 anos, carbono biogênico e mais uma população bovina estável, teremos uma equação muito diferente daquilo que o Painel do Clima e os ambientalistas estão afirmando.
Muda completamente a imagem já popularizada da pecuária como sendo uma grande vilã do aquecimento global.
Recentes pesquisas da Embrapa confirmaram um saldo positivo no carbono somente com a reforma e manejo adequado das pastagens. Outros avanços tecnológicos da pecuária possuem também um potencial de produzir sequestros de carbono.
Allen sugere que o Brasil deveria pleitear na COP 30, as alterações das atuais métricas de mensuração do efeito climático do metano bovino que “ainda dominam a orientação do IPCC por lobby, preconceito contra a carne e outros interesses”.
Já faz mais de 5 anos que escrevo artigos sobre este equívoco. Atualmente diversos cientistas do clima nacionais e internacionais estão alertando para o problema. Entidades de peso como FGV também já estão na briga.
Já está passado da hora de superar este catastrofismo estridente que ainda predomina no debate sobre a pecuária e a carne e analisar esta questão com o rigor e a credibilidade da melhor ciência.
Por Arno Schneider é pecuarista e diretor Acrimat.