Opinião – Quando Campos Neto sair do BC…

Lula quer abandonar o tripé macroeconômico e colocar em seu lugar a “justiça social”, ou seja, a gastança irresponsável. Escreve Rodrigo Constantino.

19/06/2024 16:47

“O presidente conta os dias para a saída de Campos Neto do comando do Banco Central”

Boneco com o rosto de Roberto Campos Neto em protesto de sindicalistas em 2023: Lula, PT e aliados criticam presidente do Banco Central desde o início do governo.| Foto: Sebastião Moreira/EFE

Deu no Globo: “Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir a nova Taxa Selic, e num momento em que analistas do mercado preveem que os juros vão parar de cair, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou nesta terça-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A reunião para definir a Selic começa nesta terça-feira. A taxa atual está em 10,5% e, se for mantida, vai interromper uma sequência de redução nos juros iniciada em agosto de 2023”.

Lula afirmou que o comportamento da instituição é a única coisa “desajustada” na economia do país. E comparou Campos Neto ao ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR), que foi o responsável por condená-lo na Lava Jato. Segundo o petista, Campos Neto tem “lado político” e não demonstra “capacidade de autonomia”.

É justamente o oposto: a gestão do Banco Central talvez seja a única coisa ajustada na economia brasileira hoje. Lula quer uma licença para gastar como se não houvesse amanhã, quebrando o termômetro do mercado. Para lulistas, a febre não é um sintoma de algo errado com o organismo, mas apenas algo que deve ser escondido por meio de um termômetro manipulado.

Miriam Leitão, a mais lulista da Globo lulista, chegou a afirmar que o mercado está errado, pessimista demais, e isso estaria contagiando o Banco Central. Numa só manchete, a jornalista arrogante coloca todo o mercado como incompetente e os responsáveis pelo Banco Central como marionetes sem autonomia. É como se apenas ela, a jornalista, tivesse a capacidade de analisar a saúde econômica do país. Haja soberba!

O mercado não é um “dinossauro voraz”, como já chamou Lula, e o Banco Central não é uma “Maria vai com as outras” sob a influência maligna do tal mercado. O mercado é um mecanismo dinâmico com a interação de milhares de gestores e analistas do mundo todo, gente que sabe fazer conta e antecipa problemas futuros num governo perdulário e irresponsável. E o Banco Central, quando tem independência e gestão técnica, precisa reagir de acordo.

O PT quer destruir este mecanismo todo, substituí-lo pela “vontade política” daqueles que se julgam portadores do monopólio das virtudes “sociais”. Lula quer abandonar o tripé macroeconômico e colocar em seu lugar a “justiça social”, ou seja, a gastança irresponsável da cigarra míope incapaz de antecipar a chegada do inverno. O PT fez o mesmo não tem muito tempo, e o resultado foi caótico. Não há como ser diferente desta vez.

Cada vez mais gente do mercado, que fez o L para “salvar a democracia”, percebe a furada em que se meteu. O PT ataca Campos Neto desde o primeiro dia, como bode expiatório para os males econômicos produzidos pelo desgoverno lulista. O presidente conta os dias para a saída de Campos Neto do comando do Banco Central, para colocar lá uma espécie de Haddad dois, um poste sem luz própria para obedecer seus desejos. A consequência disso todo mundo sabe qual será: a desgraça econômica. Esperar algo diferente é pura insanidade…

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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