Opinião – Censor-geral da República

O fato é que a população não tem achado a menor graça no ativismo judicial e no abuso de poder Supremo, incluindo a existência de presos políticos em nosso país. Escreve Rodrigo Constantino.

27/06/2024 11:29

“Não há clima para brincadeiras, isso sim”

Ministro do STF, Alexandre de Moraes. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), chamou o colega Alexandre de Moraes de “censor-geral da República”, durante a sessão de julgamento que descriminalizou o porte de maconha para uso pessoal, na última terça-feira (25).

Toffoli esclarecia sobre o voto que proferiu na semana passada quando brincou com o colega, ao dizer que usaria mais tempo do plenário para explicar o entendimento dele sobre a ação.

“Eu já tomei bastante tempo da Corte, mas como na média eu costumo seguir ou o relator ou a divergência, na média de tempo eu tenho algum crédito neste plenário para me pronunciar. O nosso censor-geral da República está aqui a duvidar disso”, disse em tom de brincadeira.

Nossa, que engraçado! O Brasil todo caiu na gargalhada com essa “piada”. Talvez Toffoli estivesse em clima tão descontraído pois o STF estava atropelando – mais uma vez – o Congresso, agora para descriminalizar a maconha. Vai saber!

Para Gilmar Mendes, não há clima para anistia aos presos do 8 de janeiro, um argumento pouco jurídico, para dizer o mínimo.

Não há clima para brincadeiras, isso sim.

Os ministros supremos se fecharam numa bolha, como uma casta de privilegiados, sem qualquer pulso do que sente a população, consumindo apenas a velha imprensa bajuladora.

Fux foi o único a lavar a alma do brasileiro nesta sessão, ao lembrar o óbvio: o Poder Judiciário não foi eleito. Ele rebatia o “argumento” do próprio Toffoli, de que cada um ali carrega algo como cem milhões de votos nas costas, transferindo num passe de mágica os votos do presidente que os apontou, e dos senadores que os “sabatinaram”. Fux é o único juiz na Corte Suprema também, vale notar. E como bom lutador de jiu-jítsu, não deve estar achando muita graça nesse ativismo para liberar drogas.

Rodrigo Pacheco também reclamou do ativismo no Supremo, afirmando “discordar” da forma como a matéria foi tratada. Falar até papagaio fala, como lembrou o deputado Nikolas Ferreira.

Pacheco é hoje o maior cúmplice da juristocracia brasileira, ao sentar em cima do mecanismo de freios e contrapesos previsto pela Constituição, impedindo que o plenário do Senado possa conter os avanços supremos. O deputado Gustavo Gayer foi ainda mais direto: “Esse bunda mole é o responsável pelo Brasil ter se tornado uma ditadura do judiciário”. A omissão deliberada de Pacheco não tem qualquer graça também.

Os ministros supremos estão rindo à toa, enquanto o povo trabalhador e honesto chora com a situação periclitante do país, com o ladrão que voltou à cena do crime – como diria seu próprio vice – com a perseguição promovida pelo STF que mantém presos políticos e jornalistas censurados, e com o caos que se espalha.

O músico Evandro Rathunde resumiu bem: “Agora é oficial, no Brasil você pode se drogar, roubar, traficar, e abortar, só não pode protestar contra o STF”. Quem ri disso não tem apreço pela verdadeira democracia e perdeu qualquer empatia pelo próximo…

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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