Opinião – Verborragia

O Presidente põe em dúvida a necessidade de economizar e se compraz em detonar o titular do BC, os investidores anteveem piora no mercado e risco para seus capitais. Escreve Renato de Paiva Pereira.

01/07/2024 05:42

“Falatório do presidente Lula surpreende e causa estragos na política e na economia”

Divulgação/reprodução

O palavrório do Lula em entrevistas está decepcionando os que lhe atribuem boa habilidade verbal, mas pior que isto, anda causando estragos na economia e na política.

Agora, mesmo quando as contas do governo estão capengando e o mercado muito sensível, contrariando todos os esforços da equipe econômica, afirma – falando sobre as dificuldades do governo –: “não sei se é necessário cortar despesas ou aumentar a arrecadação”.

Os esforços para incentivar a arrecadação só podem ser feitos extinguindo alguns benefícios fiscais ou melhorando a eficiência da máquina que recolhe impostos. O aumento da carga tributária parece improvável, pois dificilmente passaria pelo Congresso Nacional.

Como consequência direta da verborragia presidencial, o dólar alcançou um novo recorde, passando a custar quase R$ 5,60.

Creio que o Lula vacilou, porque é impossível ele não saber que o Brasil não está em condições de escolher se diminui os gastos ou aumenta a receita. O País precisa urgentemente de ambas as ações, porque só uma delas não dá conta de resolver os problemas. Mas no afã de agradar os seus seguidores, ele se recusa a falar sobre corte de despesas, principalmente as da previdência.

Claro que seria ótimo que o País pudesse aumentar os auxílios que acodem os mais pobres, os idosos e os inválidos. Entretanto, não é questão de querer ajudar, é o caso de poder. Não há dinheiro suficiente para aumentar o pagamento dos benefícios e a carga tributária brasileira já está no limite. Também não é possível expandir a arrecadação a não ser reduzindo as renúncias fiscais para alguns setores.

Mas, eu não tenho bagagem para discutir política tributária ou finanças públicas. O que me chama a atenção neste caso é a inabilidade do Presidente em tratar do assunto: provocou tumulto no mercado, inflacionou o dólar, depreciou a bolsa e causou um ruído político desnecessário.

Os fundamentos econômicos se nutrem de sinais que vêm das autoridades públicas. A qualquer indício de perigo, os investidores pegam seus dólares e vão ancorá-los em um porto mais seguro.

Quando o Presidente põe em dúvida a necessidade de economizar e se compraz em detonar o titular do Banco Central, os investidores anteveem piora no mercado e risco para seus capitais, mudando-os de endereço.

Além do mais o Presidente não tem a menor razão em atacar o Campos Neto, que é um diretor extremamente técnico. Tanto que ele – Campos Neto – aumentou – por necessidade – a Selic para 13,5% em plena campanha eleitoral do Bolsonaro para reeleição em 2022. Note-se que foi este – o Bolsonaro – que o nomeou para o Banco Central.

Fingindo desconhecer essa prova de atuação técnica, o Lula afirma que o BC trabalha contra o seu governo.

Com tantas trapalhadas que prejudicam o mercado, ainda vem o Lula cobrar do Campos Neto uma redução da Selic. Basta o governo acertar a mão que ela regride, o valor alto é consequência de um governo ineficiente, não sua causa. Ou seja, a Taxa está elevada porque o governo fala o que não deve e não faz o que precisa.

 

 

 

 

Por Renato de Paiva Pereira é escritor e empresário

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