Opinião – Farsa histórica

Mantidas as atuais condições de temperatura e pressão dos níveis de corrupção e a total falta de discernimento político e ético da sociedade brasileira, continuaremos a sonhar. Escreve Silvio Lopes.

03/07/2024 10:45

“Um futuro que nunca chega. E nem chegará”

Foto: Christiano Mariz/Globo

A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa, sentenciou Karl Marx, lá atrás. Esse é o “embuste” que hoje sacode o Brasil, após um pequeno interregno em que alimentamos – inocentemente -a esperança de estarmos marchando rumo à apoteose de nos transformar, enfim, numa grande nação. Sonho lindo, mas… acordamos! E veio o pesadelo da desesperança.

Não há como – e nem devemos – ignorar a história. No clássico ” Declínio e Queda do Império Romano, Edward Guibbon retrata com inegável maestria, (inclusive de detalhes), as razões da queda do poderoso império romano, depois de 500 anos de conquistas gloriosas e incomensuráveis.

Arraso (destruição na economia), com base agrícola e, em especial, a desenfreada e promíscua corrupção dos imperadores. Deu no que deu!

Alguma coisa semelhante ao Brasil de hoje? Sinceramente, tudo a ver. Nossa economia desce ladeira abaixo- daqui pra frente, em crescente aceleração, se tudo se mantiver como está. E a corrupção corre frouxa e escancarada num processo avassalador e, por enquanto, imparável.

Uma nação jamais será autossustentável, caso erigida tendo o seu tecido social tomado, integralmente, pela corrupção institucionalizada. É esse, sem tirar nem por, o nosso caso.

Aqui, historicamente, idolatramos os que se utilizam do “jeitinho brasileiro”, da “criatividade perversa de passar a perna no outro”. Isso tudo virou uma espécie de “esporte nacional”. Mesmo, mas principalmente, se esse alguém for figura pública de notória fama… É ou não é?

Impensável uma nação se tornar próspera e justa sem que seus dirigentes, pelo menos eles, sustentem um mínimo de integridade ética e moral. O exemplo tem seus papel pedagógico transcedental na formação moral da sociedade. A história comprova.

Enquanto permitirmos que nosso inconsciente coletivo, à la  Freud, decida por nós a escolha da classe dirigente, minguadas esperanças restam para tirarmos esse país do calabouço da corrupção institucional no qual se encontra.

Desalentador ver um país como o Brasil desperdiçar tantas chances de se tornar uma grande nação. A mais pujante entre todas.  Minha geração, certamente, está fadada a não ver, se isso, efetivamente, algum dia se tornar realidade.

Mantidas as atuais condições de temperatura e pressão dos níveis de corrupção e a total falta de discernimento político e ético da sociedade brasileira, continuaremos a sonhar com o mantra de ” país do futuro”. Um futuro que nunca chega. E nem chegará.

 

 

 

 

Por Sílvio Lopes, é jornalista, economista e palestrante

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