Opinião – O Lula e o dólar

Claro que não sabemos se esta tendência vai se manter porque o mercado de moedas é muito sofisticado, mas pelo menos houve uma interrupção da alta desenfreada. Escreve Renato de Paiva Pereira.

19/07/2024 07:35

“O Lula, nos últimos dias, agiu como um ingênuo, se passou por infantil”

Montagem JCS.

O Lula, nos últimos dias, agiu como o ingênuo. Ingênuo é pouco, ele passou mesmo por infantil ao desconhecer que suas declarações impróprias trariam grande pânico na cotação do dólar.

Invocando suas simplórias teorias conspiratórias, declarou diversas vezes que o “mercado” teria feito um complô para derrubar o Real. Ora vejam, depois de mais de 50 anos de vida pública (líder sindical, deputado federal, presidente de partido, presidente da República) parece que o nosso líder não entendeu ainda o que é mercado. Ele devia saber que “mercado” nada mais é que o conjunto das ações de compra e venda de papéis (ações, títulos) de mercadorias ou de serviços. E que a especulação sempre está presente nas interações entre os participantes do jogo.

A intenção do Presidente é criar um motivo para explicar coisas que não estão dando certo, como alta taxa de juros, por exemplo, convencendo seus eleitores de que a culpa é do Banco Central e de seu presidente Roberto Campos Neto. Mas a artimanha pode dar errado, como sugere a alta do dólar que chegou a R$ 5,70.

Pessoas desinformadas não se ligam na cotação das moedas e se o fazem alegam que isto não tem importância porque eles não “comem dólar”. Mas é um engano, ele influencia no preço de coisas que as pessoas usam no dia a dia, entre elas a alimentação diária.

O que preocupa é que o Lula precisou que alguns ministros o alertassem sobre o risco de manter a política de gastos inalterada e da inconveniência de desancar verbalmente o BC nas abundantes entrevistas que têm dado. Convencido das trapalhadas que vinha fazendo, retrocedeu e concordou em reduzir as despesas – expediente que negava há alguns dias.

Também prometeu manter as metes do arcabouço fiscal, confirmando o compromisso com o déficit zero neste ano e com a projeção de inflação em 3%.

Como consequência, o dólar, que já tinha perdido mais de 15% do seu valor neste semestre, iniciou um movimento de acomodação.

Claro que não sabemos se esta tendência vai se manter porque o mercado de moedas é muito sofisticado, mas pelo menos houve uma interrupção da alta desenfreada.

“Antes tarde do que nunca” diz o ditado popular. Mas este “tarde” pode gerar problemas e sugerir uma decadência cognitiva do Presidente. Neste momento que se discute mundialmente a possível incompetência do Presidente americano por conta da idade avançada, não custa lembrar que o Lula está na mesma faixa etária do Biden e do Trump e que, tal qual os outros dois, se diz candidato na próxima eleição.

E essa intenção do Lula foi o que o motivou a amenizar seu discurso. Ele foi convencido de que suas falas iradas tem o poder de estimular o mercado especulativo e que poderia repercutir na inflação, esta, sim, a maior inimiga de uma futura candidatura do Presidente em 2026.

A aceitação pelo Lula do poder real do mercado, pelo menos por enquanto, estanca a escalada do dólar e antevendo melhoras, possivelmente, suavize seu recorrente tom colérico e amenize a expressão raivosa nas aparições na TV.

 

 

 

 

Por Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.

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