Opinião – O vexame democrata

Foi a certeza da derrota que levou a cúpula democrata a substituir Biden por meio de insuportável pressão – e sabe-se lá mais qual tipo de oferta nos bastidores. Escreve Rodrigo Constantino.

22/07/2024 09:09

“A desistência de Biden (…) representa o maior vexame do Partido Democrata.”

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden: republicanos pedem renúncia após retirada de candidatura à reeleição| Foto: EFE/EPA/Jim Lo Scalzo

Joe Biden anuncia que vai se retirar da disputa eleitoral por meio de uma mensagem no antigo Twitter. Durante o dia todo, o presidente não apareceu na TV para explicar, não vimos uma só foto dele assinando a tal nota, nada. A esta altura, até alguns americanos já descobriram a figura trágica do “Tio Paulo”, que foi ao banco falecido para “assinar” um documento. O paralelo é inevitável.

O Partido Democrata se meteu numa sinuca de bico, num atoleiro sem tamanho. Por meses, quiçá anos, todos repetiram que era mentira ou distorção republicana o foco demasiado na senilidade de Joe Biden. Era tudo “cheap news”, edição de vídeos para criar a narrativa de que o presidente não estava bem. Ele estava “afiado” como nunca, mentiam os democratas com a cumplicidade da mídia. Aí veio o debate…

No fiasco que o mundo todo viu, Biden traiu seus comparsas, pois não conseguiu esconder o que todos jogavam para baixo do tapete. A revolta com Biden veio disso – de sua incapacidade de manter a grande mentira por uma horinha. Como a desgraça no debate fez com que a vantagem de Trump aumentasse ainda mais nas pesquisas, Biden sofreu intensa pressão para desistir.

O que finalmente aconteceu neste fim de semana. Mas, make no mistake: Biden só teve que sair porque ia certamente perder, não por estar sem o controle de suas faculdades mentais. Os democratas não ligam a mínima para a perda cognitiva de Biden, para sua demência, desde que possam manter o poder. Foi a certeza da derrota que levou a cúpula democrata a substituir Biden por meio de insuportável pressão – e sabe-se lá mais qual tipo de oferta nos bastidores.

Os delegados do partido escolheram Biden e ele era o candidato, somente ele poderia desistir. Deram um jeito de o “tio Paulo” pular fora. Para “salvar a democracia”, a elite democrata ignorou o processo democrático interno. E ainda tentou vender ao público a ideia de que foi um gesto de grandeza de Biden. Alguns bobocas caíram nessa ladainha ridícula, como se o presidente não tivesse sido basicamente forçado a desistir.

Os republicanos dedicaram meses em recursos e estratégia para derrotar Biden, e agora o jogo recomeça, provavelmente com Kamala Harris na disputa – saberemos no dia 19 de agosto, na convenção aberta do Partido Democrata. Trump chegou a questionar se o seu partido não merecia reembolso pelas despesas de campanha numa clara fraude eleitoral. É uma boa pergunta. Também temos o direito de perguntar se Biden desistiria caso a tentativa de assassinato de Trump tivesse sido bem-sucedida.

O Partido Democrata virou uma espécie de organização criminosa, disposto a tudo pelo poder. Não faz muito tempo esse era o partido de JFK ou até mesmo Bill Clinton, que não era flor que se cheira, mas tinha uma política bem mais moderada. Hoje é um bando de radicais mentirosos que topam tudo por dinheiro e poder. Ou seja, o Partido Democrata virou um PT da vida!

A desistência de Biden, da forma como se deu e pelos óbvios motivos, representa o maior vexame do Partido Democrata. Biden não tem mais condição de se manter na disputa, alegam aqueles que não ligam para o fato de ele ainda ser o presidente da nação mais poderosa do planeta. A esquerda é mesmo podre em todo canto do mundo. Sua obsessão pelo poder chega a ser doentia. E leva a esse tipo de cálculo frio e desumano, que torna indivíduos em meios manipuláveis e sacrificáveis para seu único propósito: o poder.

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal

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