Opinião – Esse Maduro é um cara de pau.

Não é saudável nem louvável a situação política de um país quando governo e suprema corte são regidos pela mesma batuta, irmãos de sangue. Escreve Percival Puggina.

02/08/2024 06:03

“Quero observar, ver, entender.”

Reprodução.

Se me permitem dizer, os apoiadores dele que conheço aqui no Brasil, também.

No sábado anterior à eleição, encontrei um conhecido que emigrou da Venezuela. Perguntei-lhe se iria votar e me respondeu que precisaria viajar de Porto Alegre para Brasília, mas nem assim tinha certeza de que lhe seria permitido exercer esse direito como cidadão. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, são 7,7 milhões de pessoas, irresignados à ditadura, que deixaram o próprio país para ter uma vida em liberdade e se manter com o trabalho de suas mãos. Essa massa de votantes se somaria ao oprimido e empobrecido povo venezuelano para derrotar o ditador.

Maduro é um ditador mal sucedido. Ditadores com passado desastroso e tragédias no horizonte não se reelegem em eleições limpas e disputas isonômicas. No país que governa, sobre um mar de petróleo, falta até gasolina. Ele persegue e prende opositores. Faz as regras da disputa, prende e inabilita seus principais opositores. Controla os meios de comunicação, desinforma a comunidade internacional sobre a realidade do país, marca eleições e diz que se perder haverá banho de sangue. Seus agentes intimidam partidos e candidatos adversários. Proíbe a presença de observadores internacionais cujos chefes de Estado antagonizam seus métodos. Esbirros a seu mando atacam os locais de votação atemorizando eleitores e impedem o acesso de fiscais. Seu CNE (Conselho Nacional Eleitoral) promove um “apagão” no meio do processo de divulgação da apuração e, pouco depois, extrai da cartola a vitória do chefe.

Cada momento dessa eleição grita “Fraude!”. O povo de um país desarmado, vai para as ruas onde é contido pelas forças oficiais e por milícias que, em tudo, fazem lembrar as SA (Sturmabteilung) de Hitler e as Milícias Nacionais Revolucionárias de Cuba.

Há mágicos cujas artes e ofícios exigem, em certos momentos, que uma toalha negra cubra a cena para que as alterações se produzam e seja, depois, removida sob prováveis manifestações de espanto. Sempre achei isso frustrante. Quero observar, ver, entender. Todo dia, porém, cenas importantes são cobertas com a tolha negra dos ilusionistas, mediante sigilos e censuras. A eleição venezuelana foi um caso assim. Tenho certeza de que na noite de domingo passado, os protagonistas do sortilégio eleitoral retornaram a seus lares como heróis de uma Esparta judicial e disseram às esposas e filhos que agiram para salvar a democracia e a liberdade do povo venezuelano da investida fascista e golpista da oposição…

Não é saudável nem louvável a situação política de um país quando governo e suprema corte são regidos pela mesma batuta, irmãos de sangue, nascidos no parto da mais retrógrada e opressiva das ideologias.

 

 

 

Por Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

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