Opinião – Aumento real do salário mínimo: me engana que eu gosto

Os únicos beneficiados com esse truque são os políticos que estão no poder, sempre dispostos a trocar o futuro do país pelo resultado da próxima eleição. Escreve Roberto Motta.

12/08/2024 05:40

“Aumento real de salários sem aumento de produtividade é um truque populista”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio Itamaraty.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Receber um aumento de salário significa passar a ganhar mais. No Brasil, de uma forma geral e imperfeita, os salários são periodicamente corrigidos para acompanhar a inflação e manter o poder de compra dos trabalhadores.

Assim, o valor do salário aumenta, mas ele continua comprando mais ou menos as mesmas coisas.

Índices de inflação calculados pelo governo e por algumas entidades são usados para corrigir os salários. Mas quando o salário recebe um aumento maior do que o índice de inflação, diz-se que o salário teve um aumento real.

O Estado brasileiro determina o valor do salário-mínimo, que é o menor salário que pode ser pago a um trabalhador. O governo atual definiu uma política de dar aumento real – acima da inflação – ao salário-mínimo.

Esse aumento real do salário-mínimo envolve questões ideológicas e morais. Do ponto de vista moral, um aumento real de salário é algo que um trabalhador recebe por mérito, como consequência de um bom desempenho de suas tarefas ou por ter apresentado crescimento de produtividade, o que significa fazer mais em menos tempo ou com mais qualidade.

Um aumento real de salário é um prêmio, uma recompensa ao trabalhador que faz um excelente trabalho e que ajudou a aumentar a produtividade e o resultado da empresa.

É o aumento da produtividade que permite o crescimento real dos salários pagos por uma companhia.

Um aumento salarial real “caridoso”, determinado pelo Estado, totalmente desvinculado de qualquer resultado, é moralmente equivocado, pois transmite a mensagem de que merecemos ganhar um salário sempre crescente, ainda que não tenha havido melhoria do nosso desempenho ou aperfeiçoamento de nossas habilidades.

O componente ideológico também fica explícito: os capitalistas “malvadões” serão obrigados pelos socialistas do governo a dividir sua riqueza com os trabalhadores.

Mas esse aumento é também economicamente injustificável. Para a iniciativa privada, um aumento real contínuo de salário significará a permanente erosão da margem de lucro, já que não haverá a contrapartida do aumento da produtividade. A margem de lucro diminuirá até chegar a zero. Nenhuma empresa sobrevive sem lucro. O lucro é a remuneração do empreendedor e é ele que permite novos investimentos. A consequência final é a quebra da empresa. No longo prazo, apenas as estatais sobreviverão porque elas nunca quebram: seu prejuízo é sempre coberto com o dinheiro dos impostos.

A consequência para o Estado do aumento contínuo do salário real dos servidores é o descontrole dos gastos. As consequências últimas serão a explosão da dívida pública e o descontrole da inflação.

Assim, o aumento “real” do salário-mínimo, que parece à primeira vista um gesto tão magnânimo de “justiça social”, será logo corroído pelo aumento de preços. O trabalhador ficará em uma situação pior do que antes.

Por isso, é importante dizer: aumento real de salários sem aumento de produtividade é um truque populista rasteiro que finge distribuir riqueza, mas, na verdade, distribui atraso e pobreza.

Os únicos beneficiados com esse truque são os políticos que estão no poder, sempre dispostos a trocar o futuro do país pelo resultado da próxima eleição.

 

 

 

Por Roberto Motta é pesquisador da área de segurança pública, ex-consultor de tecnologia do Banco Mundial e ex-Secretário de Estado do Conselho de Segurança do Rio de Janeiro. É autor de 4 livros: “Ou Ficar A Pátria Livre”,  “Jogando Para Ganhar: Teoria E Prática da Guerra Política”, “Os Inocentes do Leblon” e “A Construção da Maldade: Como Ocorreu a Destruição da Segurança Pública Brasileira”. É graduado em engenharia pela PUC-RJ, tem mestrado em gestão pela Fundação Getúlio Vargas. Foi um dos fundadores do Partido Novo e é comentarista na Jovem Pan News.

Tags: