Desde que Lula mostrou que está na “linha de frente” da Resistência Climática, o Brasil mandou 65 bombeiros combater o fogo – mas na Bolívia. Escreve J.R. Guzzo.
13/09/2024 12:47
“A ideia mestra, desta vez, foi fazer uma nomeação”
O cidadão brasileiro pode confiar numa coisa, com os olhos fechados, sempre que aparece algum problema sério neste país: Lula e seu governo vão propor a pior solução entre todas as que estão disponíveis. Não é tanto por terem dificuldade de encontrar a solução certa. É que não sabem o que é uma solução – e às vezes não sabem nem mesmo qual é o problema.
Estão metendo o pé na jaca, mais uma vez, com as suas providências para enfrentar a onda de incêndios que se espalha pela Amazônia e outros pontos do território nacional. Na verdade, e como sempre, não tomam providência nenhuma – o que, por si só, garante que não vão resolver nada. A única medida em seu repertório é armar mais um discurso idiota do presidente da República. Todo mundo em volta dele bate palma e dá-se o caso por solucionado.
A ideia mestra, desta vez, foi fazer uma nomeação. Não conseguiram, claro, apresentar um único pensamento coerente para lidar com a crise – em vez disso, Lula anunciou uma “Autoridade Climática” para cuidar dos incêndios. Que diabo poderia ser um bicho desses? Pelas experiências passadas, deve ser mais um gato gordo com gabinete, equipe, carro blindado, segurança, jato da FAB, verba etc. etc. etc. Não vai apagar uma fogueira de São João. Mas já está escalado para entrar nos próximos discursos de Lula como uma das grandes realizações do seu governo. “Nunca antes na história deste país”, ele pode dizer agora, “um presidente da República teve a coragem de nomear uma ‘Autoridade Climática’”.
É a Opção Preferencial pela farsa. Quem nomeia “Autoridade” é o poder público nos Estados Unidos – New York Port Authority, Tennessee Valley Authority, authority disso, authority daquilo. Os estrategistas centrais da propaganda de Lula acharam bonito copiar isso, e eis aí o Brasil com uma “authority” para chamar de sua. É uma palhaçada – equivale a botar a camisa do Real Madrid no Jabaquara e achar que está jogando futebol de time grande. Incêndio, que é bom, ninguém apaga. Desde que Lula, em pessoa, mostrou que está na “linha de frente” da Resistência Climática, as autoridades brasileiras mandaram 65 bombeiros combater o fogo – mas na Bolívia.
O que talvez possa ser considerado, com muito esforço, como um lado menos ruim de mais esse mico, é que ninguém no governo, graças a Deus, pensou em colocar a ministra Marina Silva como a tal “Autoridade”. Numa das mais notáveis curiosidades do governo Lula 3.0, a ministra do Meio Ambiente não pode ser indicada para trabalhar com nenhum problema ligado ao Meio Ambiente.
A razão mais direta para isso é que Marina simplesmente não tem a mais remota condição material de lidar com qualquer questão administrativa. De todo modo, ela está preocupada com “nanomísseis” na atmosfera, a conjunção “cósmica”, a “centralidade” do ser e do não-ser, e por aí afora. Sua função, hoje, é servir como bicho de estimação para bilionários com angústias ambientais.
Lula já tinha nomeado uma “Autoridade” para cuidar das enchentes no Rio Grande do Sul. Sua única atividade conhecida, até agora, é ficar brigando com o governador do estado e disputar com ele para ver quem aparece mais nas entrevistas de rádio e tevê. Lula, pelo jeito, gostou da fórmula.
Por J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.