Opinião – Secas, pragas, enchentes e Lula

Dos agricultores brasileiros, Lula exige juros e correção monetária, mas perdoa as dívidas de 400 milhões da ditadura do governo do Congo. Escreve Mecias de Jesus.

20/09/2024 07:09

“Que maravilha se Lula fosse um presidente tão bom para o Brasil quanto é para outros países”

Lula apenas reconheceu a situação de dificuldade pela seca dos rios do Amazonas, e Marina diz que ICMBio sofreu “abandono”.| Foto: Ricardo Stuckert/Secom

Depois de passar por França, Emirados Árabes, Espanha, Estados Unidos, Japão, Vaticano, Reino Unido, Itália, Bélgica, Cabo Verde e mais outra dezena de países, Lula parece ter encontrado um espaço em sua agenda para anunciar que pretende ir a Roraima tratar sobre a grave crise dos imigrantes venezuelanos que já se arrasta há quase uma década.

Roraima é um estado conservador. Deu a Bolsonaro a maior votação proporcional em 2022. Mas Lula será bem recebido porque hospitalidade é um traço marcante do povo roraimense. Prova disso é que somos o principal destino dos venezuelanos que fogem da miséria, das doenças e da violenta ditadura de Nicolás Maduro, parceiro de longa data do líder petista. A maioria dos venezuelanos que chegam ao nosso país através de Roraima, por lá decidem ficar. Hoje, um quarto dos habitantes do estado já é de origem venezuelana.

Sobre esse assunto, Lula poderia fazer mais do que poses para fotos. Um exemplo é liberar os 300 milhões de reais que a União deve a Roraima a título de indenização pelo que o estado já investiu na recepção, acolhimento e triagem dos imigrantes, essa uma responsabilidade que o governo federal irresponsavelmente transferiu para um estado que luta para equilibrar suas contas. Cabe lembrar ao presidente que já existe decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) dando ganho de causa para o governo do estado. Falta ao governo federal agir.

Lula anunciou que vai a Roraima para tratar sobre a situação dos venezuelanos. Mas, considerando que a presença do petista em Roraima é evento raro, sugiro que ele também olhe para os brasileiros. Convido Lula a visitar as comunidades rurais que sofreram com a praga da lagarta e com a maior seca dos últimos anos. Gente que viu suas colheitas e rebanhos reduzidos a zero. Famílias que hoje só têm dívidas e desalento. Desafio Lula a olhar nos olhos dos mais humildes e dizer que vetou o projeto de lei que prorrogava o prazo de pagamento das dívidas dos produtores rurais atingidos por emergências climáticas alegando falta de recursos enquanto ofereceu um generoso – e escandaloso – perdão de 7 bilhões de reais para empreiteiras investigadas por corrupção na Lava Jato.

Que maravilha se Lula fosse um presidente tão bom para o Brasil quanto é para outros países. Dos agricultores brasileiros, Lula exige juros e correção monetária, mas perdoa as dívidas de 400 milhões da ditadura do governo do Congo e não cobra 12 bilhões de reais do calote promovido pelo seu compadre Nicolás Maduro em relação ao qual tem sido estranhamente dócil, submetendo nosso país a seguidas afrontas diplomáticas.

Seria esperançoso se em Roraima Lula conseguisse enxergar nas famílias desesperadas pelos prejuízos da seca ao menos uma pálida sombra do que ele próprio viveu no sertão de Pernambuco. Seria um alento se Lula olhasse para o seu povo. Mas não. Lula vetou a lei que oferecia a prorrogação (não isenção ou anistia como concedido a multimilionários e ditadores – apenas a prorrogação) dos prazos de pagamento para as dívidas das famílias do campo vítimas de catástrofes naturais.

Secas, pragas e enchentes se tornaram adversários naturais do homem do campo. Agora Lula também.

 

 

 

 

Por Mecias de Jesus é senador.

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