Depois da aquisição da jazida de urânio brasileiro, a China investe US$ 1 bilhão no lítio da Bolívia e avança sobre 24,6% das reservas mundiais de minérios.
28/11/2024 17:07
Parceria expande influência chinesa no mercado global de baterias
Depois negócios em mina com urânio brasileiro, a China deu mais um passo estratégico na corrida pelo controle de recursos essenciais para a transição energética global. Na última terça-feira (26), a Bolívia anunciou um acordo de US$ 1 bilhão com a CBC Investments, subsidiária da gigante chinesa de baterias CATL, para construir duas plantas de produção de lítio no Salar de Uyuni, a maior reserva do mineral no mundo.
A parceria reforça a presença da China no “Triângulo do Lítio”, composto por Bolívia, Chile e Argentina, que concentra as maiores reservas globais desse mineral. Com o objetivo de produzir 35 mil toneladas métricas de carbonato de lítio anualmente, o investimento consolida a dependência boliviana de financiamento e tecnologia chineses, uma preocupação crescente no cenário político e econômico local.
“Este é um contrato fundamental, de suma importância para o país por toda a geração de investimentos e recursos provenientes da exportação de carbonato de lítio”, declarou o presidente boliviano Luis Arce, destacando o impacto do acordo na economia do país.
Geopolítica do lítio: China avança e provoca alerta
O Salar de Uyuni, localizado no sudoeste da Bolívia, é a maior planície de sal do mundo e uma das principais reservas de lítio do planeta. Com uma área de cerca de 10.582 km², o local é famoso não apenas por sua beleza natural deslumbrante, mas também por sua importância estratégica. Debaixo de sua camada de sal, o Salar de Uyuni abriga aproximadamente 24,6% das reservas globais de lítio, tornando-o um ponto central na corrida internacional por esse recurso essencial para baterias de veículos elétricos e dispositivos tecnológicos.
O lítio da Bolívia é essencial para as baterias de íons de lítio, usadas em veículos elétricos e outros dispositivos tecnológicos. A China, que já domina a fabricação de baterias, busca garantir o controle das fontes desse mineral estratégico. Como destacou The Epoch Times, o Partido Comunista Chinês (PCCh) enxerga o acordo como mais que um simples investimento: é uma peça importante em seu plano de ampliar a influência no mercado global e manter sua vantagem competitiva no setor tecnológico e militar.
Além disso, a presença da China no setor de mineração boliviano reflete um padrão. Segundo Eduardo Gamarra, especialista em relações internacionais da Universidade da Flórida, “a China se aproveitou das circunstâncias da região, conseguiu penetrar em economias precárias que não tinham acesso ao crédito convencional, prometendo investimentos e empréstimos”.
A Bolívia já deve cerca de US$ 6 bilhões à China, aumentando a dependência econômica. Embora a estatal Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB) detenha 51% de participação no projeto, especialistas alertam para os riscos de uma excessiva influência externa na soberania do país.
A China não está sozinha nessa corrida. A Rússia, por meio da estatal Rosatom, também investiu no lítio da Bolívia, com um contrato de US$ 976 milhões para outra planta no Salar de Uyuni, agora projetada para produzir 25 mil toneladas de lítio por ano. Esses investimentos, tanto chineses quanto russos, consolidam a Bolívia como peça-chave no fornecimento global de lítio, mas também suscitam dúvidas sobre o real benefício para a economia local.
América do Sul como foco de interesse chinês
O envolvimento da China vai além da Bolívia. No Chile, Argentina e Brasil, os chineses já lideram iniciativas semelhantes, com bilhões de dólares investidos em projetos de extração de lítio e outros recursos. Esses investimentos são parte de um esforço maior de Pequim para assegurar sua posição como líder na transição energética mundial.
O impacto dessa expansão não é apenas econômico, mas também geopolítico. A presença da China em setores estratégicos da América do Sul reforça sua influência na região e expõe os países locais a um novo tipo de dependência.
O futuro do lítio da Bolívia
Com as maiores reservas do mineral do mundo, a Bolívia está no centro de uma disputa global pelo lítio. O investimento chinês promete impulsionar a economia, mas a que custo? Com preocupações sobre soberania e autonomia, o país se encontra em um delicado equilíbrio entre aproveitar suas riquezas naturais e preservar sua independência econômica.
Enquanto isso, a China segue firme na missão de consolidar seu domínio sobre o mercado global de baterias, garantindo o controle do recurso que alimentará o futuro energético do planeta.