Opinião – O 7 a 1 de Nikolas Ferreira na comunicação do governo Lula

A revogação da instrução e sua substituição por uma MP garantindo que o Pix não será tributado atenuaram a sangria, mas não a estancaram. Escreve Guilherme Macalossi.

21/01/2025 06:11

“Se não queria taxar, por que revogou?”

Divulgação/reprodução.

Não é preciso concordar com a visão de mundo ou com os métodos do deputado Nikolas Ferreira para reconhecer que possuí excelente habilidade retórica e que é uma estrela em ascensão na direita política brasileira. Se vai se transformar em uma liderança nacional, capaz de herdar o eleitorado bolsonarista nas eleições vindouras, é algo que só o futuro poderá responder. O fato é que o vídeo que Nikolas Ferreira gravou sobre a instrução normativa da Receita Federal alterando o monitoramento das transações por Pix ajudou a causar um impacto devastador sobre o governo Lula, furando bolhas ideológicas e sendo visualizado centenas de milhões de vezes.

Foi um verdadeiro 7 a 1, e bem na estreia do novo ministro da Secretaria de Comunicação, o marqueteiro Sidônio Palmeira. Zonzo com a reação pública e sem capacidade de articular qualquer resposta, o governo foi obrigado a simplesmente revogar o texto. Mas não sem chiadeira, não sem adicionar novas camadas de desgaste político e não sem explicitar algumas das características que contribuem decisivamente para que os seus indicadores de aprovação continuem em queda, ligando sinal de alerta para 2026.

“Pessoas inescrupulosas distorceram e manipularam o ato normativo da Receita Federal, prejudicando milhões de pessoas no Brasil e causando pânico e desacreditando um meio de pagamento muito importante na vida das pessoas”, disse Robinson Barreirinhas, secretário da Receita Federal que deveria ter sido sumariamente demitido após o episódio.

Ainda que a desinformação tenha de fato se espalhado nas redes sociais (e eventuais crimes devem ser apurados e punidos), houve muita gente que rejeitou a instrução exatamente por entender perfeitamente o que se pretendia com ela. Nenhuma tributação nova seria gerada a partir do Pix, mas os critérios de monitoramento buscavam apertar o cerco aos que o governo considera como “sonegadores” com o objetivo de, na ponta, arrecadar pela via do Imposto de Renda.

Ao excluir a hipótese de que as pessoas criticaram o governo porque não gostaram da nova política da Receita, Barreirinhas subestima a inteligência do público, além de ignorar o fato óbvio de que ninguém gosta de pagar impostos. O governo Lula é incapaz de reconhecer qualquer erro, mesmo que os comenta às pencas.

A revogação da instrução e sua substituição por uma medida provisória garantindo que o Pix não será tributado atenuaram a sangria, mas não a estancaram. E haverá, por óbvio, a exploração política também dessa decisão. “Se não queria taxar, por que revogou?”, será a pergunta de agora em diante. Além do estrago político, que pode ser precificado na próxima eleição, o governo conseguiu também dar holofote para Nikolas Ferreira, que se projetou nacionalmente sem nem mesmo usar uma peruca loira para isso.

 

 

 

Por Guilherme Macalossi é jornalista, apresentador, redator e radialista. Formado em Direito, é apresentador do programa “Bastidores do Poder” e comentarista do “Jornal Gente”, na Rádio Bandeirantes, e colunista do jornal “Band Cidade”, na TV Bandeirantes. Na Gazeta do Povo já foi produtor do programa Imprensa Livre e de mini- documentários especiais.

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