Os “monstros do pântano”, como diria Paulo Guedes, controlam o show, e se trata, portanto, de um espetáculo medonho, bizarro. Escreve Rodrigo Constantino.
06/02/2025 05:31
“O Brasil tem donos, e são todos canalhas pelo visto”

Senador Davi Alcolumbre (União-AP), à esquerda, e o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), à direita: os dois foram eleitos para as presidências do Senado e da Câmara, respectivamente. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
A situação de qualquer pessoa decente no Brasil hoje é desesperadora. Alguns preferem transformar tudo em disputa futebolística ou tribal, mas a verdade é que nenhum patriota pode ficar contente com os resultados para o comando da Câmara e do Senado. Pode-se até tentar argumentar que não havia muita alternativa, que apoiar Hugo Motta e Davi Alcolumbre era um “mal menor”, mas quem pode comemorar uma coisa dessas?
É preciso, antes de mais nada, ter coerência. Os “pragmáticos” alegam que Alcolumbre já estava eleito, então o apoio do PL garantiu ao menos presença em comissões importantes. Mas se ele já estava eleito mesmo e os votos do maior partido de oposição ao regime não fariam qualquer diferença, então por que uma figura do pântano como Alcolumbre daria algo em troca do apoio? Faz sentido?
Claro que o apoio tem um custo alto para a direita! Um custo moral, perda de narrativa e por aí vai. Pode-se argumentar que os ganhos superam os custos, mas é absurdo negar o trade-off envolvido. Infelizmente, alguns “conservadores”, que chegam a passar pano para comunistas, passam o dia atacando a direita “limpinha” ou “intergaláctica”. Gente estranha, que acusa outros de dividir a direita enquanto passa o dia atacando ícones da direita, e são incapazes de criticar Alexandre de Moraes!
Descobri, por essa militância esquisita, que eu, Marcel van Hattem, Eduardo Girão, Ricardo Salles, Luiz Phillipe de Orleans, Leandro Ruschel, Cristina Graeml, Ana Paula Henkel, Renata Barreto e até Nikolas Ferreira, entre tantos outros, somos “traidores”, “egoístas” e “oportunistas”. Só é direita raiz verdadeira patriota quem celebrou com o PT a vitória do Alcolumbre! Acham mesmo que esse discurso vai colar?
O Brasil cansa. Não vou desistir da minha luta de toda uma vida pela nossa liberdade pois brasileiro não desiste nunca. Mas que dá vontade de desistir do Brasil de vez, isso dá! Os “monstros do pântano”, como diria Paulo Guedes, controlam o show, e se trata, portanto, de um espetáculo medonho, bizarro. O Brasil tem donos, e são todos canalhas pelo visto. Mesmo quem justifica a necessidade de dançar conforme a música para se obter algumas migalhas precisa admitir: é uma lama total.
Talvez seja crucial alguém sujar as mãos nesse lamaçal mesmo. Não sei até onde deve ir o “pragmatismo”, até que ponto ele sacrifica os valores básicos que defendemos. Sei que é preciso ter cuidado, pois pragmatismo excessivo é adesão colaboracionista, e corremos o risco de nos transformar no monstro que queremos destruir. Ou o objetivo não é mais de ruptura com o sistema podre e carcomido?
Minha amiga Ana Paula Henkel resumiu bem o quadro: “Alcolumbre como presidente do Senado é o mais puro suco de Brasil – e uma das maiores vergonhas para o país. Se com Pacheco estava ruim, apertem os cintos”. Também temo que a “vitória” da direita pragmática seja uma vitória de Pirro. Não dá para confiar nessa patota que já conhecemos de carnavais passados.
Não vou ficar mais na discussão se comemorar essa turma dandos as cartas é algo necessário ou não, muito menos entrar em treta com certa direita “kassabista” ou até “leninista” que só quer dividir para coquistar espaços e cargos. Escrevo essas linhas do hospital para a segunda rodada da quimioterapia, na luta contra o câncer. Este vou derrotar, estou convicto! Já o cancro da politicagem brasileira, esse parece invencível mesmo. O Brasil cansa…
PS: Para enfrentar o câncer se faz preciso colocar toxinas para dentro do organismo, o que poderia ser análogo a aceitar um pacto com monstros do pântano para um objetivo maior, que é derrotar o principal inimigo. Mas antes de iniciar a quimio, eu recebo doses fortes de medicamento para náusea. Não dá para aguentar algo tão tóxico assim sem o devido preparo antes. O organismo tem seus limites!
Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.