A falta de oposição competitiva, além de empobrecer o debate, também permite que os compromissos não necessitem ser publicitados. Escreve Roberto Queiroga.
11/02/2025 10:49
“Aos olhos do eleitor comum, o governo brasileiro saiu melhor na foto”

Presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso; o presidente da Câmara, Hugo Motta; e presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
Descendente de dois presidentes dos Estados Unidos, é atribuída ao novelista e historiador Henry Adams a seguinte afirmação: “A política, como o amor, mantém a cortina baixada”. Esta citação não é encontrada em suas obras, mas da mesma forma que muitas citações são feitas às escondidas, na política, grande parte das reais motivações dos acordos firmados são mantidos sob o sigilo conveniente dos políticos. Isso fica evidente quando se analisa a eleição dos presidentes do Legislativo.
A eleição para presidente das duas Casas Legislativas, procedida pelas celebrações no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, com a presença de ministros do governo e parlamentares proeminentes da oposição, causam vertigens nos eleitores brasileiros. Os dois lados polarizados se perguntam: devemos comemorar? O que foi acordado entre os parlamentares para que ambos tomassem a mesma posição? Como pode agendas tão distintas do ponto de vista econômico, político e social, achar um equilíbrio em torno de, praticamente, uma candidatura nas duas casas legislativas?
Emendas parlamentares, reforma ministerial, anistia, alteração legislativa para inelegibilidade, não importa o que foi prometido, os discursos das vitórias não parecem ser suficientes para a população ficar sabendo como os presidentes das duas Casas Legislativas pensam sobre os relevantes temas políticos postos sobre a mesa.
A falta de oposição competitiva, além de empobrecer o debate, também permite que os compromissos não necessitem ser publicitados. Aos olhos do eleitor comum, o governo brasileiro saiu melhor na foto. Literalmente, a imagem de hoje do presidente Lula de mãos dadas com Davi Alcolumbre e Hugo Motta reverbera a sua fama de conciliador e articulador político muito mais que os expoentes da oposição. Expoentes estes que não foram claros em suas posições e que só foram a público para combater as candidaturas avulsas que “ousaram” não fazer parte do acordão entre as diferentes cores políticas.
O eleitor da esquerda também se perdeu nesta ausência de disputa para presidentes do Legislativo. Quanto custa a perda da representatividade de suas agendas quando o governo cede mais espaço ao Centrão? Qual o custo acertado para a governabilidade? Não seria o caso de a sociedade ter estas informações? São muitas interrogações neste artigo, mas não poderia ser diferente. Muito provavelmente a sociedade não gostaria de ver, de forma tão explícita, o que está por trás desta cortina.
Por Roberto Queiroga, sócio da Eixo Relações Institucionais, possui MBA Executivo em Economia e Gestão: Relações Governamentais, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).