Opinião – Brasil zera imposto de importação, mas os produtores nacionais continuam pagando

Era muito mais simples tirar os impostos nacionais, atrapalhados por um Estado, que só sabe cobrar e impor. Escreve Alexandre Garcia.

19/03/2025 10:47

“Parece que é uma maluquice total.”

Governo zerou imposto de importação de sardinha em conserva, entre outros alimentos, mas produtores dizem que setor de pescados pode quebrar com medida. (Foto: Monika/Pixabay)

Na última sexta-feira (14) entrou em vigor a alíquota zero do imposto de importação de alguns produtos que nós temos em abundância no Brasil, produtos que nós exportamos. Nós somos os maiores exportadores de carne do mundo, mas para importar carne sem osso não haverá mais o imposto de 10,8%. Nós somos os maiores produtores e exportadores de café, mas agora o café torrado estará isento do Imposto de Importação, que era de 9%. O milho importado – e a galinha é 60% milho – vai ficar sem 7,2% de imposto.

Confesso que gosto das massas italianas, e elas vão ficar mais baratas, pois não vão mais cobrar 14,4% de imposto. Mas o produtor de massas brasileiro vai continuar pagando imposto. É a mesma coisa com bolachas e biscoitos – os importados vão deixar de pagar 16,2% de imposto, tá de graça; não sei o que meus amigos da Dias Branco, lá do Ceará, estão achando disso, porque vão continuar pagando imposto aqui. Talvez exportem mais para a Ásia, para onde eles já vendem muito. O azeite – e nem preciso dizer que é de oliva, porque azeite vem de azeitona – vai ficar sem o imposto de 9%. Nós temos excelentes azeites brasileiros, premiados, da Mantiqueira, do Rio Grande do Sul, que vão sofrer concorrência maior dos portugueses, espanhóis, gregos e italianos. O óleo de girassol não terá 9% de imposto.

Nós somos os maiores exportadores de açúcar do mundo, e agora não vão cobrar os 14,4% de imposto para trazer açúcar do exterior. Vão importar de onde, será que de Cuba? Também foi zerado o imposto de 32% para importar sardinha estrangeira – normalmente, de Portugal. A associação da indústria de pescado está dizendo que o governo vai quebrar o setor com essa medida.

Parece que é uma maluquice total. Era muito mais simples tirar o imposto dos produtores nacionais, que são atrapalhados por um Estado, que só sabe cobrar e impor. Cada empresa precisa ter um imenso departamento só para cuidar do emaranhado de tributos.

Enquanto isso, aço e alumínio brasileiros pagam mais nos EUA

Desde anteontem está valendo a alíquota de 25% que o governo dos Estados Unidos impôs ao alumínio e ao aço brasileiros que são importados pelos norte-americanos. O presidente Lula disse que não tem medo de cara feia, mas certamente os exportadores de alumínio e das placas de aço que vão para os Estados Unidos devem estar preocupados, porque este é um setor muito importante. Nós somos o segundo maior vendedor de aço para os Estados Unidos; exportamos uns 3 milhões ou 4 milhões de toneladas anuais. O Canadá é o primeiro, vendendo 1 milhão de toneladas a mais que nós; e o México é o terceiro, com 1 milhão de toneladas a menos que nós. Em resumo, nós somos grandes, e isso vai causar um baque grande na siderurgia brasileira – o que também vai significar menor arrecadação de impostos por parte da indústria siderúrgica.

Inflação voltou a subir e vai pressionar os juros

Tivemos em fevereiro a maior inflação para o mês nos últimos 22 anos: foi 1,31%. Qualquer especialista sabe que o Banco Central vai continuar subindo a taxa básica de juros enquanto o governo continuar a gastança. Gastança gera carestia. E quem provoca a inflação é o governo, não é a galinha.

 

 

 

Por Alexandre Garcia, colunas sobre política nacional publicadas de domingo a quinta-feira.

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