Opinião – Empréstimo consignado: Lula virou agiota?

O progressismo social do governo começa na improbidade administrativa e termina com o celetista enforcado financeiramente nos próprios direitos. Escreve Guilherme Macalossi.

25/03/2025 10:18

“Se o acesso dos trabalhadores ao FGTS fosse livre, não haveria necessidade de empréstimo”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o consignado para trabalhdores CLT e pode colher inflação. (Foto: André Borges – EFE)

O lançamento do programa de crédito consignado do governo federal é a primeira grande peça de publicidade na estratégia de comunicação de Sidônio Palmeira visando às eleições de 2026. A medida é mais eleitoreira do que econômica e visa recuperar a imagem de Lula. A reeleição, afinal, depende da melhoria da popularidade do presidente, que vem em queda constante desde final do ano passado. Como a população está estrangulada com dívidas, nada mais apelativo que fazer jorrar crédito consignado, mesmo que com custo fiscal e aumento da inflação futura. O boleto fica para depois da campanha.

Se havia qualquer dúvida em relação ao objetivo marqueteiro do governo com o programa de crédito consignado, a ministra Gleisi Hoffmann tratou de escancarar tudo ao divulgar em suas redes sociais um vídeo chamando o programa de “empréstimo de Lula”. “Apertou o orçamento? O juro tá alto? Pega o empréstimo do Lula”, disse para os seguidores. É uma ilegalidade aberrante, mas não surpreendente.

Gleisi Hoffmann cometeu crime de improbidade administrativa ao violar o princípio da impessoalidade, previsto na Constituição Federal, em seu art 37, parágrafo 1º. A saber: “A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”. Ao contrário do que diz a lei, o que parece que é o presidente é que está emprestando dinheiro do próprio bolso para o cidadão que está negativado. Por acaso Lula virou agiota?

Concebido para dar ao povo um vislumbre de alívio financeiro, o que o “empréstimo do Lula” faz na verdade é atar o FGTS dos trabalhadores como garantia de ressarcimento aos bancos. É uma medida particularmente perniciosa e perigosa, já que o valor virá descontado em folha e, caso a pessoa seja demitida, terá sua indenização de rescisão e saldo FGTS tomados pela instituição credora para pagar o débito do consignado.

Se o acesso dos trabalhadores ao FGTS fosse livre, não haveria necessidade de empréstimo nenhum e nem de novas dívidas a serem roladas. Mas este é o governo que combate até o saque aniversário. Você não pode pegar o dinheiro que já é seu, mas pode contratar um empréstimo consignado que coloque o seu dinheiro guardado como garantia.

Nem o mais radical agente financeiro pensaria num meio tão eloquente de entregar uma garantia dos trabalhadores ao que os esquerdistas chamam de “grande capital”. O progressismo social do governo Lula começa na improbidade administrativa e termina com o celetista enforcado financeiramente nos próprios direitos.

 

 

 

Por Guilherme Macalossi é jornalista, apresentador, redator e radialista. Formado em Direito, é apresentador do programa “Bastidores do Poder” e comentarista do “Jornal Gente”, na Rádio Bandeirantes, e colunista do jornal “Band Cidade”, na TV Bandeirantes. Na Gazeta do Povo já foi produtor do programa Imprensa Livre e de mini- documentários especiais

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