Opinião – Risco de pegar o consignado é sacrificar a segurança no futuro

Se a pessoa fizer o empréstimo para produzir ou vender mais, ótimo; mas, se for apenas para pagar dívidas (…) será complicado. Escreve Alexandre Garcia.

25/03/2025 09:59

“A população brasileira tem cada vez mais pessoas idosas.”

Ministro do Trabalho espera R$ 100 bilhões em empréstimo consignado para CLT usando FGTS como garantia. (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

Estou muito preocupado com esse empréstimo consignado para quem tem emprego pelo regime CLT, usando o FGTS como garantia do empréstimo. O que vai acontecer com o Fundo de Garantia? A demanda está imensa: até a noite de domingo já havia 4,5 milhões de solicitações de empréstimo, e já tinham sido fechados, contratados, 11 mil empréstimos. O ministro do Trabalho acha que, em três meses, haverá R$ 100 bilhões em empréstimos garantidos pelo FGTS. Isso é assustador.

O sujeito pega o consignado e paga o crédito direto ao consumidor. Ele deixa de pagar um juro de 6% – que não é ao ano, é ao mês, é incrível! – para pagar 2% ao mês, que ainda é um juro bem alto. É um círculo vicioso, tirar um empréstimo para pagar outro. E a pessoa já pode estar imaginando que não poderá pagar, e aí o banco vai pegar do FGTS. Seria uma antecipação da retirada do Fundo de Garantia. O problema é que, quando a pessoa precisar, não terá FGTS. Se tiver alguma emergência de saúde, se for comprar um imóvel, quando se aposentar, não vai ter. A genialidade dessa engenharia financeira vai bater no FGTS; o banco que empresta não está nem um pouco preocupado; em caso de inadimplência, o banco não perde, porque vai pegar o dinheiro no FGTS do devedor.

Se a pessoa fizer o empréstimo para produzir ou vender mais, ótimo; mas, se for apenas para pagar dívidas, trocar juros escorchantes por outros gritantes, será complicado. E muitos não vão entender, pelo imediatismo; vão achar que o governo é muito bonzinho. Mas a garantia é a pessoa que está dando, oferecendo o seu próprio FGTS, o seu próprio dinheiro. Esse dinheiro que está parado lá, a que um dia ela terá direito, é que está garantindo o empréstimo. Se a roda parar de girar…

Juros estão em alta, e novo consignado vai botar mais pressão na inflação

Toda segunda-feira sai o Boletim Focus, do Banco Central, que é uma pesquisa com instituições do mercado financeiro. Ela está mostrando que a previsão para a inflação continua a ser de quase o dobro da meta. A meta de inflação é 3%, e a estimativa para o IPCA agora é de 5,65%; baixou apenas 0,01 ponto em comparação com a semana anterior. E aí voltamos aos juros: a taxa básica está em 14,25, igualzinho ao tempo de Dilma, e a expectativa é que ainda vá a 15% na próxima reunião, daqui a 40 dias já.

Isso deixa o PT frustrado com Gabriel Galípolo. Os petistas pensaram que Galípolo, indicado por Lula para presidente do Banco Central, seria diferente de Roberto Campos Netto? Não; ele é uma pessoa de mercado, responsável, sabe que o Conselho de Política Monetária do Banco Central é responsável por cuidar da saúde da moeda e do crédito – tanto que a decisão pelos 14,25% foi unânime, de todos os nove integrantes. E isso nos traz de volta ao empréstimo consignado para CLT. Ele cria pressão na inflação, a base monetária crédito vai se expandir com algo que estava quieto, lá no Fundo de Garantia.

Não é só o FGTS; Previdência também é bomba-relógio

A população brasileira tem cada vez mais pessoas idosas. Em 1980 o Brasil tinha 4% de pessoas acima de 65 anos, agora já são 10% – e isso sobre a população de agora; já são 20 e poucos milhões de idosos que a Previdência tem de sustentar com o recolhimento dos jovens. Essa balança se equilibra? É tudo muito preocupante.

 

 

 

Por Alexandre Garcia, colunas sobre política nacional publicadas semanalmente.

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