Opinião – Dominação

Chegaram no centro e ameaçaram com sequestros e mortes, se não cooperasse com suas atividades ilegais. Amedrontado botei trancas nas portas e, acuado como um animal frágil. Escreve Renato de Paiva Pereira.

06/04/2025 05:26

“O sequestro das favelas e bairros periféricos pelas milícias e facções criminosas”

Ilustrativa.

Lendo notícias sobre o sequestro das favelas e bairros periféricos pelas milícias e facções criminosas, lembrei-me do texto do pastor luterano Martin Niemoller, que, copiado da internet, reproduzo abaixo:

“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque afinal, eu não era comunista.

Quando prenderam os social-democratas, eu calei-me, porque afinal, eu não era social-democrata.

Quando levaram os sindicalistas, não protestei, porque afinal, eu não era sindicalista.

Quando levaram os judeus, não protestei, porque afinal, eu não era judeu.

Quando levaram-me, não havia mais ninguém que pudesse protestar.”

Como adaptar o belo texto do Pastor Martin, para a realidade atual das favelas e bairros da periferia das cidades brasileiras, dominados por bandidos e da indiferença da classe alta e dos legisladores, ignorando o sofrimento das vítimas?

Uma possibilidade imediata de plágio seria: Quando obrigaram os moradores da favela a comprar, dos milicianos e contrabandistas, gás, água e internet clandestina, não me alarmei. Porque, afinal, eu não moro na favela.

Depois, começaram a cobrar “pedágio” dos habitantes dos bairros periféricos e eu não fiz nada. Porque, na verdade, nem conheço a periferia.

Em seguida, mesmo sabendo da exigência do pagamento de “taxa de proteção” dos comerciantes, não me toquei. Nem deveria; não sou comerciante.

Por fim, chegaram no centro onde vivo e ameaçaram com sequestros e mortes, se não cooperasse com suas atividades ilegais. Amedrontado botei trancas nas portas e, acuado como um animal frágil, fiquei encolhido em um canto.

Vivi enfim, a realidade dos bairros pobres, que por anos ignorei. Meus vizinhos me viram derrotado, e ninguém fez nada. Nem podia, já era tarde demais.

 

 

 

Por Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.

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