Opinião – Minha fuga desesperada da América fascista

Não vemos a hora de estar em segurança em nosso país de origem, onde o presidente idolatra o regime cubano, defende o companheiro Maduro da Venezuela. Ironiza Rodrigo Constantino.

11/04/2025 11:06

“No Brasil a democracia foi salva!”

Foto: Darren Halstead/Unsplash

Deu no G1: O professor de Yale que está saindo dos EUA por discordar do governo Trump: ‘Já somos um regime fascista’. Jason Stanley, autor do livro Como funciona o fascismo’ explica seus motivos para se mudar para o Canadá – e por que acredita que uma ditadura está se instalando nos EUA. Ao ler a reportagem, decidi picar a mula, voltar ao meu seguro e protegido Brasil.

Fiz correndo as malas, com medo do Trump. Na hora de colocar meu fuzil AR-15, lembrei que no Brasil isso é arma exclusiva de traficante. Triste, liguei para um amigo que adora armas e ofereci meu “brinquedo” por um preço irrisório. Quando fui colocar na mala minha Glock, minha Sig Sauer e minha Walther PPQ, veio a terrível lembrança de que até pistolas dessa natureza são complicadas (sem falar caríssimas) de ter no Brasil. Pensei: “Fascismo estranho esse que facilita o acesso do povo às armas! Normalmente é o contrário: todo fascista tenta desarmar a população e concentrar todo poder no Estado”.

Resignado e desarmado, continuei a operação debandada, para fugir o quanto antes do fascismo. Pensei em tudo de terrível que já disse sobre autoridades e políticos americanos. Nunca fui importunado por isso, é verdade, não entrei em inquérito supremo por postagens em redes sociais que, aliás, continuam liberadas aqui. Até mesmo todos esses “especialistas” que denunciam o fascismo americano continuam desfrutando de total liberdade para atacar Trump e Elon Musk, este último em sua própria plataforma. Mas pensei, com humildade: o que sei eu sobre fascismo? Se o cara lá de Yale disse, então está falado!

Li que o Guga Chacra (oi, Guga) concluiu que talvez seja melhor os estudantes procurarem outros destinos em vez da América. Puxa, talvez seja mesmo melhor o cara ficar na UFRJ em vez de estudar em Harvard, pensei. O risco de ele acabar socialista é alto em ambos os lugares, mas o clima nas universidades americanas anda muito fascista. Nem dá mais para aluno estrangeiro com visto temporário ficar defendendo os terroristas do Hamas em paz, poxa! Só porque pedem o extermínio aberto de judeus devem perder o visto? Guga deve estar certo: isso só pode ser autoritarismo!

Correndo com a mala para não perder tempo e ficar preso no regime fascista, percebi que minha esposa colocava um batom em sua mala. Gritei, desesperado: isso não!!! Quer ser presa, mulher? Não sabe que batom é arma perigosa aonde estamos indo? Pode até derrubar a democracia! Se quiser levar umas flechas indígenas para jogar na polícia legislativa ou na força nacional, tudo bem. Seria apenas um protesto pacífico. Mas batom, sorvete e pipoca são armas golpistas. Leva só o básico!

Ela ficou meio chateada, mas entendeu: nada de batom. Deixando para trás nossas armas – pistolas, fuzil e batom, colocamos apenas o essencial e saímos correndo. Não dá para ficar mais um minuto nesse regime fascista! Não vemos a hora de estar em segurança em nosso país de origem, onde o presidente idolatra o regime cubano, defende o companheiro Maduro da Venezuela e aproxima o país cada vez mais do Partido Comunista Chinês. Lá a democracia foi salva! Li a entrevista do ministro Alexandre de Moraes na New Yorker: só aquela foto com olhos cerrados, capa de Batman e fundo vermelho já diz tudo! Num país em que esse sujeito tem tanto poder só pode reinar a ampla liberdade!

Tranquilos com nosso destino final, ansiosos por pisar logo em solo nacional, seguimos nossa rota de fuga do fascismo. Assim que chegamos ao saudoso Rio, vimos, além da pichação e favelas por toda parte, um comboio de traficantes circulando com as armas que eu não pude trazer. Bateu certa tensão, mas eu logo procurei acalmar minha esposa: “Amor, pensa que nos livramos da ameaça fascista do Trump, e também do risco dos crocodilos. O que são uns marginais fortemente armados perto disso?! Agora estamos em segurança e com liberdade. Só não critica o Alexandre de Moraes, pelo amor de Deus! Soube que isso pode dar até cadeia hoje em dia aqui…”

Ah, lar doce lar! Nada como o ar de liberdade que se respira no Brasil lulista!

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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