Opinião – O colapso moral do Brasil

A crise moral no Brasil, evidenciada pela corrupção, violência e fracassos institucionais, exige uma resposta fundamentada nos princípios cristãos. Escreve Franklin Ferreira.

09/05/2025 07:06

“A corrupção no Brasil, agravada sob governos do PT, é exemplificada pelo escândalo do INSS”

Supremo Tribunal Federal. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.

A nação brasileira enfrenta uma crise moral profunda, marcada por uma erosão dos valores éticos e espirituais que outrora sustentaram sua identidade. A corrupção sistêmica, a violência desenfreada e a relativização da verdade corroem os alicerces da sociedade. Essa crise não é apenas política ou econômica, mas espiritual, refletindo um afastamento dos princípios cristãos que moldaram a cultura brasileira. A Bíblia alerta que “a justiça exalta uma nação, mas o pecado é uma vergonha para qualquer povo” (Pv 14,34). A ausência de uma bússola moral clara tem levado o Brasil a um estado de confusão ética, onde o certo e o errado são definidos por conveniências pessoais ou ideológicas, em vez de princípios absolutos.

A anulação da condenação de Lula

Um dos episódios mais emblemáticos dessa crise foi a anulação das condenações de um ex-presidente preso, que posteriormente retornou ao poder. Esse evento, ocorrido em 2021 com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de anular as sentenças de Luiz Inácio Lula da Silva, levanta questionamentos sobre a integridade do sistema judiciário. Do ponto de vista cristão, a justiça deve ser imparcial e refletir a verdade, como ensina a Escritura: “Não perverterás o direito; não farás acepção de pessoas” (Dt 16,19). Quando decisões judiciais favorecem interesses políticos em detrimento da verdade, a confiança na justiça é abalada, aprofundando a percepção de impunidade. Esse cenário alimenta a descrença dos brasileiros na ordem social e reforça a ideia de que a corrupção pode prevalecer sobre a retidão.

O Judiciário como arma política

A politização do STF tem agravado a crise moral e institucional no Brasil, transformando a Corte em um agente de intervenção política que, muitas vezes, ultrapassa suas prerrogativas constitucionais. Em decisões controversas, como a anulação de condenações de figuras políticas ou a imposição de medidas que restringem liberdades individuais, o STF tem agido como um poder acima dos demais, violando o princípio da separação de poderes estabelecido na Constituição Federal. Essa “ditadura de toga” desrespeita valores básicos de justiça e verdade, como orienta a Escritura: “Aprendei a fazer o bem; buscai o que é justo” (Is 1,17). Ao priorizar agendas ideológicas progressistas, o STF destrói a confiança do povo brasileiro nas instituições, sobretudo no Judiciário, enfraquecendo a democracia e perpetuando a instabilidade.

A violência crescente

A violência no Brasil atingiu níveis alarmantes, com taxas de homicídios que colocam o país entre os mais violentos do mundo. Em 2022, o Brasil registrou cerca de 40 mil homicídios, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Essa escalada reflete não apenas falhas em políticas públicas, mas uma desvalorização da vida humana, contrária ao mandamento bíblico: “Não matarás” (Êx 20,13). A violência é um sintoma de uma sociedade que perdeu o temor a Deus e a reverência pela dignidade do próximo. A disseminação de valores relativistas e a glorificação da violência em certas subculturas contribuem para um ciclo de destruição que só pode ser rompido por uma renovação moral do país, fundamentada em princípios cristãos.

Um exemplo de falência moral

A Bahia, governada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) há quase duas décadas, exemplifica a crise moral brasileira. O estado enfrenta altos índices de violência, com a capital, Salvador, figurando entre as cidades mais violentas do Brasil. Em 2022, a taxa de homicídios na Bahia foi de aproximadamente 35 por 100 mil habitantes, segundo o Atlas da Violência. Além disso, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Bahia permanece abaixo da média nacional, com 0,714 em 2021, refletindo desigualdades persistentes no estado. De uma perspectiva cristã, o governo deve promover a justiça e o bem-estar, mas a priorização de agendas ideológicas sobre políticas efetivas tem perpetuado a violência e a pobreza na Bahia. Para as raízes dessas questões, recomendo o documentário O nó: ato humano deliberado, que demonstra o colapso da economia e explora as dinâmicas sociais e políticas que perpetuam crises como a vivida na Bahia.

O que é mais alarmante é que, de acordo com os dados mais recentes do IBGE (2010), os evangélicos representavam 17% da população do estado, e os católicos representavam 76,3%. Ou seja, mera religiosidade não tem poder efetivo de mudar pessoas. E a ausência de uma visão moral robusta no Brasil, gerada por uma conversão a Jesus, impede a construção de uma sociedade verdadeiramente justa no país.

A corrupção generalizada

A corrupção no Brasil, agravada sob governos do PT, é exemplificada pelo escândalo do INSS, o “Aposentão”, onde fraudes em benefícios previdenciários desviaram fundos de aposentados e idosos. Estima-se que o desvio para sindicatos supere R$ 6,3 bilhões (a estimativa do volume de consignados sob investigação é de R$ 90 bilhões). Somente o sindicato do irmão de Lula recebeu R$ 456,9 milhões. Sob gerência do Partido Democrático Trabalhista (PDT), o caso reflete um padrão sistêmico que, conforme a Transparência Internacional, reverteu avanços no combate à corrupção. A ganância e a falta de ética violam a ordem divina: “Não furtarás” (Êx 20,15). A resposta do governo Lula foi leniente: o agora ex-ministro Carlos Lupi, suspeito central, foi demitido com atraso e substituído por um aliado, enquanto o PT atribuiu culpa a gestões anteriores. Mas, nos dois anos de governo do PT, o roubo no INSS atingiu níveis de voracidade e desumanidade sem precedentes. A Escritura, contudo, é clara ao condenar tais práticas: “O rei, com justiça, estabelece a terra, mas o que aceita suborno a transtorna” (Pv 29,4). Sem uma base moral sólida, a corrupção prospera, prejudicando especialmente os mais pobres, que dependem de benefícios como os do INSS para sobreviver.

A incredulidade diante do caos moral

Em um contexto de crise moral, surge a questão: como aquele que não é cristão encontra motivação para viver virtuosamente? Sem a fé cristã, que oferece uma cosmovisão ancorada em Deus como fonte de moralidade, muitos recorrem a filosofias humanistas, utilitaristas ou relativistas. Essas abordagens, porém, carecem de uma base absoluta, levando a decisões éticas inconsistentes. Por exemplo, o utilitarismo pode justificar ações imorais se o resultado for percebido como benéfico, enquanto o relativismo moral dissolve qualquer padrão objetivo de moralidade. No final, quem não confia no Senhor Jesus, muitas vezes, se refugiará em prazeres sensoriais, redes sociais, compras impulsivas, trabalho excessivo ou relacionamentos superficiais, na tentativa de escapar do vazio e do desespero. E, como Michael Horton notou, “a alternativa ao cristianismo raramente é o secularismo puro – quase sempre é alguma forma de misticismo, ocultismo ou panteísmo”. Mas a Escritura ensina que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9,10), ensinando que a ausência de Deus como referência moral deixa o indivíduo à mercê de seus próprios desejos ou pressões sociais. Em um Brasil marcado pela corrupção e violência, viver sem fé no único Messias pode levar ao desespero ou ao conformismo com a degradação moral.

A necessidade de uma base moral sólida

Uma sociedade sem uma base moral vigorosa é insustentável. A história demonstra que nações prosperam quando guiadas por princípios éticos claros e transcendentes, enquanto o colapso moral leva à desordem e ao caos. A Escritura adverte: “Se forem destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (Sl 11,3). No Brasil, a erosão dos valores cristãos, como honestidade, aliança, respeito e solidariedade, abriu espaço para a corrupção, a violência e a divisão. Embora alguns defendam que a moralidade pode ser secular, a experiência mostra que, sem um fundamento transcendente, como o oferecido pelo cristianismo, as sociedades tendem a fragmentar-se em interesses egoístas. Como Alexis de Tocqueville escreveu em A democracia na América: “Não há, a meu ver, nada mais necessário ao bem-estar das nações do que a influência das crenças morais e religiosas [cristãs]; elas são o fundamento da ordem social e da liberdade”. Uma nação sem Deus como referência última corre o risco de perder sua coesão e propósito.

Uma vida virtuosa

Para o cristão, a motivação para uma vida virtuosa, em meio à crise moral, vem da obediência a Deus e do desejo de refletir sua santidade. A Escritura exorta: “Sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1,16). Mesmo em um contexto de corrupção e violência, o cristão é chamado a ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14), influenciando a sociedade por meio de ações justas e amorosas. Essa motivação não depende das circunstâncias externas, mas da relação com o Senhor Jesus, que capacita o cristão a perseverar. Exemplos bíblicos como o de Daniel, que permaneceu fiel à aliança do Deus de Israel em um ambiente hostil, no exílio na Babilônia, inspiram os cristãos a viverem com integridade, confiando que Deus honra aqueles que o obedecem.

Um novo céu e nova terra

A esperança cristã transcende as crises terrenas, apontando para a promessa de um “novo céu e nova terra” (Ap 21,1), onde a justiça e a paz reinarão. Essa esperança não é escapismo, como querem os marxistas, mas uma certeza que dá propósito à luta presente. Como escreveu C. S. Lewis, em Cristianismo puro e simples: “Se você estudar a história, verá que os cristãos que mais trabalharam por este mundo eram exatamente os que mais pensavam no outro mundo. Os apóstolos, que desencadearam a conversão do Império Romano, os grandes homens que erigiram a Idade Média, os protestantes ingleses que aboliram o tráfico de escravos – todos deixaram sua marca sobre a Terra precisamente porque suas mentes estavam ocupadas com o Paraíso”. Como ensina a Escritura, os cristãos aguardam “novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça” (2Pe 3,13). Essa visão da eternidade motiva o crente a trabalhar pela transformação da sociedade, sabendo que suas ações têm valor eterno. No Brasil, onde a anomia e a desesperança, muitas vezes, predominam, a fé cristã oferece uma âncora, lembrando que Deus está no controle e que Sua redenção é certa. Pois, como Agostinho de Hipona escreveu: “Quão grande será essa felicidade onde mal nenhum haverá, ou bem nenhum faltará, onde toda a ocupação consistirá em louvar a Deus, que será tudo em todos!”

O caminho para o inferno

Por fim, a fé cristã inclui um alerta solene: o inferno aguarda aqueles que rejeitam a Deus e persistem no pecado sem arrependimento. O Senhor Jesus advertiu que os ímpios “irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mt 25,46). O ensino sobre o castigo eterno, embora impopular em uma era de relativismo, é essencial para compreender a seriedade do pecado e a necessidade de conversão a Jesus. No contexto brasileiro, onde a impunidade e a corrupção prosperam, o chamado ao arrependimento é urgente. A mensagem cristã não é apenas de esperança, mas de responsabilidade. Cada pessoa deve crer no Senhor Jesus ou enfrentar as consequências eternas de sua rebelião e iniquidade: ser banido por Deus para um lugar de castigo eterno (Mt 25,46; Mt 25,41), de fogo inextinguível (Mt 3,12; Mc 9,43), “onde não lhes morre o verme” (Mc 9,48), um lugar de “choro e ranger de dentes” e trevas (Mt 25,30).

Para onde iremos?

A crise moral no Brasil, evidenciada pela corrupção, violência e fracassos institucionais, exige uma resposta fundamentada nos princípios cristãos. A fé em Deus oferece não apenas uma base moral sólida, mas também a esperança de redenção e a motivação para viver virtuosamente, mesmo em tempos difíceis. Enquanto a sociedade brasileira enfrenta desafios sem precedentes, os cristãos são chamados a ser luz em meio às trevas, apontando para a promessa de um novo céu e nova terra, ao mesmo tempo em que advertem sobre as consequências do pecado impenitente. Que os brasileiros redescubram os valores cristãos que podem restaurar sua alma e guiá-los a um futuro de justiça e paz.

Oremos, com as tocantes palavras do Livro de Oração Comum:

“Pai Santo, bendizemos-te por tua Palavra ter chegado até nós através de uma longa cadeia de fidelidades, e ser para nós, hoje, a nossa mais bela esperança! Anima-nos com o teu Espírito para que a esperança nunca morra em nós e para que a memória de teu Filho permaneça sempre conosco. […] Deus, nosso Pai, ao recordarmos a morte e a ressurreição de Jesus sentimos que a semente da esperança é depositada em nós, e te pedimos para que, sob a ação do teu Espírito, nos ajudes a tornar esta terra habitável, para nós e para os nossos filhos, para que haja alegria na vida e o homem seja capaz de confiar no homem. […] Amém.”

 

 

 

Por Franklin Ferreira é bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado em Bíblia e Teologia pela Universidade Luterana do Brasil, mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e doutor em Divindade pelo Puritan Reformed Theological Seminary. É reitor e professor de Teologia Sistemática e História da Igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos (SP), professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI (Estados Unidos), e consultor acadêmico de Edições Vida Nova. Autor de vários livros, entre eles Teologia Sistemática (em coautoria com Alan Myatt), A Igreja Cristã na História, Avivamento para a Igreja, Contra a Idolatria do Estado, Pilares da fé e Por amor de Sião, publicados por Edições Vida Nova, e Servos de Deus e O Credo dos Apóstolos, publicados pela Editora Fiel.

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