É um circo. Até lembra um pouco, mas não chega a esse ponto, aquela CPI da Covid. Essa sim foi um legítimo circo. Circo de horrores, de enganações, de mentiras. Escreve Alexandre Garcia.
16/05/2025 07:10
“Até ouvi o argumento de que quem entra num cassino (…) é gente que tem dinheiro.”
Virginia Fonseca, influenciadora digital que depôs na CPI das Bets. (Foto: reprodução/TV Senado)
A minha instrutora de Pilates aqui em Lisboa me disse, horrorizada, perguntando o que acontece no Senado do Brasil. A mãe dela veio lhe chamar a atenção, pois viu, por acaso, essa comissão que investiga as apostas. Eu não sei por que usam a palavra em inglês, “bet”. Apostar é “to bet”. “Bet” é apostar. Não sei por quê, mas enfim… talvez seja para identificar que se trata de apostas eletrônicas.
Estão discutindo isso com a maior normalidade, como se não existisse a Lei das Contravenções Penais. O artigo 50 proíbe o jogo de azar. E mais: explica, no parágrafo terceiro, o que é um jogo de azar — aquele cujo resultado depende da sorte. E, como vocês sabem, sorte é sinônimo de acaso. Sorte é sinônimo de azar. Azar é sinônimo de acaso. Um jogo de futebol, um jogo de vôlei, depende da atuação dos atletas. Já o jogo de azar depende do acaso.
Isso é proibido. A pena chega a 14 meses de cadeia — ou de condenação, digamos, para ficar melhor — porque a pessoa pode acabar pagando de outras formas. Mas está proibido por lei. Ah, claro, o Estado brasileiro pratica e banca, por meio da Caixa Econômica Federal. “Ah, é para benefício.” Sim, mas é jogo. E jogo vicia.
Eu nunca joguei na minha vida. Aliás, sempre apostei em mim. E aí ganhei sempre — além de economizar o valor da aposta. Em geral, é o mais pobre quem aposta. Porque aposta é a oferta de um prêmio que aparece de repente, sem esforço, sem preparo, sem nada. Cai do céu, ao acaso. Então o pobre aposta.
E foi apurado que milhões de pessoas que recebem o Bolsa Família — que vem dos impostos de quem trabalha — gastam nessas apostas. Por isso, os políticos estão preocupados com as apostas eletrônicas, enquanto outros fazem lobby para liberar cassinos no Brasil.
Até ouvi o argumento de que quem entra num cassino, por ser algo mais sofisticado, é gente que tem dinheiro. E gente que tem dinheiro certamente não apostou: apostou em si próprio, no seu negócio. É uma roda.
Mas, enfim, o que eu queria falar mesmo é do show que acontece lá. É um circo. Até lembra um pouco, mas não chega a esse ponto, aquela CPI da Covid. Essa sim foi um legítimo circo. Circo de horrores, de enganações, de mentiras — que hoje todas foram derrubadas. Todas. E o povo inteiro, milhões de pessoas, enganadas. Inclusive gente que morreu por causa da mentira. Porque não se tratou como poderia ter sido tratado.
E assim está. Deviam fazer uma CPI para investigar quem colaborou, quem espalhou a mentira, quem impediu o tratamento, quem fez propaganda de uma injeção aí que hoje assusta as pessoas.
Esse é o Brasil.
Por Alexandre Garcia, colunas sobre política nacional publicadas semanalmente.