Opinião – 2026 deverá ser o auge do marketing político

Com forte influência da inteligência artificial, a consolidação das redes sociais e o combate às fake news, estarão no centro das estratégias eleitorais. Escreve Guto Araújo.

20/05/2025 10:32

“As redes serão, mais do que nunca, o campo decisivo dessa batalha”

Imagem: Raphael Pinheiro.

As eleições gerais de 2026 devem marcar um novo capítulo no marketing político brasileiro. Com a disputa pelos cargos de presidente, governadores, senadores e deputados, especialistas já projetam um pleito fortemente influenciado por tecnologias emergentes, em especial pela inteligência artificial (IA) e pelo uso estratégico das redes sociais.

O marketing eleitoral viverá seu momento mais intenso em 2026, impulsionado pelo avanço da IA, que deve ser usada tanto no monitoramento de redes e na análise de tendências do eleitorado quanto na interação automatizada por meio de chatbots.

No entanto, acendo alguns alertas para o uso indevido dessas tecnologias também representa um risco. A IA pode facilitar a propagação de deepfakes e levantar preocupações sérias sobre privacidade e manipulação de dados.

  1. Redes sociais e fake news seguem como protagonistas

As redes sociais devem continuar sendo ferramentas cruciais na consolidação de candidaturas e na difusão de propostas, com influenciadores digitais exercendo papel cada vez mais relevante – e polêmico – na formação da opinião pública.

Infelizmente, as fake news permanecem influentes e afetam eleitores de todos os perfis socioeconômicos”, pontua o estrategista. Devemos observar uma crescente valorização do discurso antissistema. Hoje, o engajamento é impulsionado muito mais por mensagens de confronto do que por narrativas de união. O medo e o ressentimento são gatilhos eficazes no cenário atual.

  1. Perfil do novo marqueteiro político

Estou nesse mercado desde 1998 e já participei de seis campanhas presidenciais ao lado de nomes como João Santana e Duda Mendonça, e vejo o estrategista político como uma figura-chave nas eleições contemporâneas. O marqueteiro moderno precisa dominar não apenas técnicas de comunicação, mas também conceitos de psicologia, antropologia e história. O estrategista é como um maestro regendo uma orquestra. Um bom projeto de marketing político combina pesquisa de dados, sensibilidade cultural e domínio dos canais de comunicação.

  1. TV ainda tem peso – especialmente fora dos grandes centros

Defendo o papel ainda relevante da televisão, principalmente para eleitores com mais de 35 anos e das classes D e E. O horário eleitoral gratuito ainda tem impacto importante, especialmente no início e no fim da campanha. Mais de 99% da população ainda assiste à TV, o que mantém sua relevância estratégica. O segredo está no equilíbrio entre os canais. Apostar só no digital é um erro. O sucesso está em integrar todas as frentes de maneira inteligente.

  1. A força dos influenciadores e a transformação do jogo político

Na minha avaliação, a entrada massiva dos influenciadores digitais na política trouxe dinamismo à comunicação, mas também abriu espaço para abusos. O conteúdo é muitas vezes raso, emocional e, em alguns casos, criminoso. Isso precisa ser monitorado com mais rigor. Nas eleições de 2006, Lula e Dilma Rousseff enfrentaram um cenário mais previsível, onde as redes sociais ainda não tinham protagonismo. Já em 2018, tudo mudou com Bolsonaro, que soube usar as redes como poucos. O WhatsApp virou arma central de campanha. Em 2022, o PT teve que correr atrás para equilibrar o jogo.

  1. Direita digital, esquerda analógica

Quero destacar ainda a vantagem que a direita conquistou ao crescer politicamente em sintonia com a ascensão digital. Enquanto a direita compreendeu rápido o poder das redes, a esquerda ainda reage de forma lenta. Um exemplo foi a crise recente das aposentadorias no INSS. A direita respondeu com agilidade, enquanto o governo demorou a reagir, mesmo sabendo do problema há meses. O sucesso nas urnas em 2026 dependerá diretamente da capacidade de antecipação e planejamento das campanhas. Quem começar agora a estruturar sua comunicação digital terá vantagem. As redes serão, mais do que nunca, o campo decisivo dessa batalha.

 

 

 

Por Guto Araújo, é estrategista político, secretário-geral do Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP).

Tags: