Quem adora árvores são os ricos e filósofos de poltrona. Os moradores dos cafundós só querem acesso a estradas, luz elétrica e gás. Escreve Renato de Paiva Pereira.
08/06/2025 06:17
“Quem adora árvores são os ricos e filósofos de poltrona”

Foto: Gianmarco Di Costanzo
Nos animados happy hours diários, os almofadinhas de São Paulo e do Rio de Janeiro, discutem com afetada desenvoltura preservacionista a necessidade de deixar intocado o petróleo da margem equatorial brasileira.
Invocando prováveis mudanças climáticas que levariam à miséria as populações dessa região, recomendam deixá-las na penúria já agora, para evitar uma possível miséria futura. Ou seja, prescrevem um mal imediato e concreto para evitar outro, futuro e incerto.
Exibindo cultura de almanaque cheia de clichês, discursam contra a exploração de petróleo no Amapá e Amazonas, enquanto a Noruega amplia ano a ano sua produção no fundo do mar e no ártico. Esta, para aliviar a consciência, direciona uns caraminguás para mantermos os caboclos da Amazônia impedidos de derrubar suas árvores e de perfurar poços de petróleo.
Quando a guerra Rússia/Ucrânia, iniciada há três anos, comprometeu a oferta de combustível para a Europa, não houve movimentos no sentido de economizar energia. Privar-se da calefação plena, gastar menos energia elétrica ou reduzir as viagens (carros, aviões) estava fora de seus planos. Acharam melhor reativar as usinas a carvão, reconhecidas poluidoras da atmosfera. Não cogitaram restringir algum conforto em benefício do clima, mas sugerem que a população amazônica deva se abster do progresso como contribuição para o meio ambiente.
A floresta amazônica é, sem dúvida, um extraordinário depósito de CO₂ que, se queimado aumentará a concentração desse gás na atmosfera. Entretanto, o caboclo que lá vive não é obrigado a ser o eterno guardião não remunerado deste estoque, enquanto os outros esbanjam o que ele economiza.
Interessante que os moradores do sul e do sudeste do Brasil esquecem que ali, onde desfrutam do progresso com cidades modernas, estradas asfaltadas e fábricas produtivas, há 400 anos era uma exuberante floresta. E que a eficiente agropecuária que ali floresce só foi possível porque as árvores foram derrubadas. Ou alguém supõe que lavouras de cana-de-açúcar, milho e café produzem debaixo da mata?
Neste momento em que se discute no parlamento uma possível racionalização dos processos de licenciamento ambiental, há um grande alvoroço das ongs “marineiras” tentando impedir que se dê algum limite às ideológicas e absurdas normas que impedem muitos projetos de prosperarem.
O carnavalesco Joãozinho Trinta dizia: “Pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual” Ele insinuava que os bacanas romantizam a miséria dos outros, enquanto usufruem dos privilégios da fartura.
Claro que não estou sugerindo a derrubada da floresta amazônica, mas sim dizendo que não é lícito impedir o progresso dos habitantes das matas em nome de uma missão impossível, como se eles fossem os responsáveis pelo clima do mundo.
Quem adora árvores são os ricos e filósofos de poltrona, que já usam sem escrúpulos sua cota de conforto e luxo. Os moradores dos cafundós só querem acesso a estradas, luz elétrica e gás. O lucro do petróleo da margem equatorial daria a eles esses “privilégios” e, quem sabe, um celular com internet.
Ou os cults de boteco — glamourizando uma experiência que desconhecem — acham que os pobres preferem cozinhar no escuro, a pouca comida que têm, usando o fogão a lenha?
Por Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.