Tudo isso levará a uma saída expressiva de capital externo, com impactos diretos sobre o câmbio e desdobramentos macroeconômicos. Escreve Cézar Queiroz.
25/06/2025 06:10
“Se o cenário negativo se confirmar, haverá mais insegurança regulatória e institucional.”

Fernando Haddad se reuniu com Hugo Motta, Davi Alcolumbre e líderes partidários para apresentar alternativas à alta do IOF. (Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)
Do ponto de vista da eficiência econômica, não existe justificativa razoável para aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) das transações de crédito, câmbio e previdência privada que o governo federal decretou na segunda quinzena de maio. Uma decisão que, na verdade, é um risco desnecessário à economia. Mirando estritamente a questão fiscal (aumento de arrecadação em curto prazo), a elevação do imposto financeiro vai desequilibrar os outros dois pilares do tripé econômico, que são a inflação e o câmbio.
Começando pelo câmbio, um imposto financeiro maior interfere diretamente na liberdade de movimentação do capital nacional e internacional. O encarecimento dos custos de captação e investimento vai forçar uma reestruturação de projetos financeiros de médio e longo prazo, devido à imprevisibilidade maior de retorno.
Olhando para o Brasil, o investidor estrangeiro terá uma percepção negativa do novo cenário e pode interpretar a ação como um movimento de controle de fluxo de capitais. Diante dessa perspectiva, ele vai preferir migrar seus recursos para destinos mais previsíveis e adiar projetos locais. Na prática, estaremos nos afastando do livre mercado e flertando com um modelo intervencionista.
Se o cenário negativo se confirmar com o IOF elevado, haverá mais insegurança regulatória e imprevisibilidade institucional. Tudo isso levará a uma saída expressiva de capital externo, com impactos diretos sobre o câmbio e desdobramentos macroeconômicos. Nessa perspectiva, menos dólares vão entrar no país e provocarão a desvalorização do real. O reflexo para a economia será o aumento da inflação importada e a necessidade de adotar uma política monetária rígida (aumento do juro básico e restrição ao consumo). Ou seja, produtos importados vão ficar mais caros.
As consequências para o cenário doméstico também serão desafiadoras. O encarecimento das operações financeiras de crédito vai desacelerar tanto a atividade produtiva como o consumo. Se o financiamento é sobretaxado e as empresas não tiverem acesso a outras fontes de captação, a atividade econômica vai diminuir. Com isso, as empresas – especialmente as pequenas e médias – terão que se desdobrar para encontrar formas de captação. E os consumidores que dependem de financiamento para parcelar as compras terão menos capacidade financeira.
Para quem investe, a elevação do IOF também afeta diretamente o envio de recursos ao exterior, seja para investir, estudar ou proteger patrimônio: é essencial se planejar. No horizonte de sobretaxação de operações financeiras, é preciso avaliar a viabilidade de manter parte dos recursos em contas internacionais, principalmente em países com estabilidade institucional. Também vale considerar o uso de plataformas financeiras com estruturas mais eficientes de remessa e proteção. E, acima de tudo, manter uma visão global sobre o patrimônio.
No médio e longo prazos, nem o pilar fiscal será beneficiado. Com a atividade econômica reduzida, a arrecadação vai acompanhar o movimento, e o governo deveria rever essa decisão – e rapidamente. A majoração do IOF não é uma política de arrecadação inteligente e demonstra falta de planejamento. Só depois de um diagnóstico claro e transparente do déficit é que haverá maior embasamento para se discutir medidas e complementos fiscais. É preciso haver responsabilidade e diálogo na condução da política fiscal, e não é prudente onerar quem gera riqueza para sustentar um modelo fiscal ultrapassado e caro.
Em vez de penalizar o mercado produtivo e o investidor, o governo precisa considerar ações mais sustentáveis, como uma ampla reforma administrativa, redução de gastos públicos e enxugamento da máquina. Antes de buscar mais receita, é preciso cortar desperdícios.
Por César Queiroz é especialista de mercado e fundador da Queiroz Investimentos e Participações (QIP).