22/04/2010 11:43
Deprimidos pelo excesso de oferta, os preços domésticos não remuneram os custos de produção e travam a comercialização, fazendo o grão se acumular nos armazéns. Apesar de as cotações internas estarem baixas – o que em teoria seria um incentivo às exportações -, o real sobrevalorizado tira a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Como resultado, as vendas externas do cereal, que poderiam ser a válvula de escape para enxugar o excesso de oferta e regular o mercado, também não decolam.
Pressão – Segundo analistas, o país teria que exportar ao menos 10 milhões de toneladas de milho neste ano para aliviar a pressão sobre os preços. Mas essa parece uma meta difícil de ser alcançada. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, entre janeiro e março de 2010, os embarques do grão somaram 1,8 milhão de toneladas, 30% menos que as 2,5 milhões de toneladas do primeiro trimestre de 2009. Ou seja, para cumprir a meta dos 10 milhões, o Brasil teria que enviar ao exterior quase 1 milhão de toneladas mensais até o final do ano. Em janeiro, mês de melhor desempenho até agora, os embarques brasileiros do cereal não chegaram à casa das 900 mil toneladas.
Comparação – “O ano passado não serve de base para comparação”, defende Eduardo Sampaio, diretor do Departamento de Promoção Internacional do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Tivemos um primeiro trimestre muito bom em 2009. Quase um terço das exportações foram feitas nesse período, até por causa do apoio polêmico do PEP”, explica.
Subsídio – O governo garante que está preparado para auxiliar a comercialização da produção novamente neste ano, inclusive com subsídio à exportação. “No ano passado apoiamos a venda de 10,8 milhõesa de toneladas de milho. Neste ano, estimamos que ao menos 15 milhões de toneladas irão precisar de apoio”, prevê o coordenador-geral de Cereais e Culturas Anuais do Mapa, Silvio Farnese. A ideia, explica, é escoar o milho do Mato Grosso para os centros de consumo do Norte e Nordeste do país e subsidiar a exportação do cereal produzido em estados autossuficientes como o Paraná.
Embarque – Farnese considera que isso viabilizaria o embarque de 10 milhões de toneladas até o final do ano, volume considerado suficiente por produtores e indústrias para enxugar o mercado. Mais conservadora, a Conab estima as exportações brasileiras de milho em 2010 em 8,5 milhões de toneladas. O volume é superior ao registrado no ano passado (7,8 milhões), mas fica abaixo do recorde de 2006/07, quando 10,9 milhões de toneladas do cereal deixaram os portos nacionais. Naquele ano, as vendas externas do grão explodiram por causa de uma quebra na safra de trigo da Europa. Na temporada seguinte, com recuperação da safra europeia, os embarques brasileiros caíram quase à metade e inflaram os estoques de passagem do país, que beiraram 12 milhões de toneladas no ciclo 2007/08.
Excedente – Desde então, o Brasil vem carregando esse excedente. Há três safras, o país vira o ano com mais de 11 milhões de toneladas de milho sobrando. E, se não conseguir alavancar as exportações neste ano, repetirá o mesmo roteiro em 2010. Considerando a meta atual da Conab para as vendas externas, o país chegará ao final do ano com 11,4 milhões de toneladas do cereal em estoque, o suficiente para quase três meses de consumo. O acúmulo de sobras não é visto como um problema pelo Mapa. “Consumimos pouco menos de 4 milhões de toneladas ao mês. Por isso, precisamos manter nossos estoques em níveis saudáveis para evitar o desabastecimento”, defende Sampaio.
Preocupação – Já na visão do setor produtivo, o carregamento de estoques é motivo de preocupação. “Nossa rede de armazenagem, além de deficitária, é mal distribuída. Não haverá espaço para guardar tanto milho em Mato Grosso. No ano passado ficamos com 500 mil toneladas armazenadas a céu aberto no estado. Não me assustarei se neste ano esse volume for ainda maior”, declara Seneri Paludo, superintendente do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea). Nas contas do instituto, Mato Grosso terá neste ano 13,5 milhões de toneladas de milho para comercializar. A estimativa considera um excedente de 3 milhões de toneladas de milho que sobraram da safra anterior e uma safrinha recorde de 9,5 milhões de toneladas prevista para 2010.
Meta só é viável com apoio do governo
O Brasil exportou no ano passado 7,8 milhões de toneladas de milho, 21% acima das 6,4 milhões de toneladas de 2008. Boa parte desse resultado foi sustentado pelo governo, que apoiou a comercialização de 10,8 milhões de toneladas do cereal em 2009, o equivalente a 22% da produção total (verão e safrinha) do país no ciclo 2008/09. A maior parte desse volume foi negociada em leilões de PEP (Prêmio para Escoamento de Produto), um instrumento de subsídio ao frete criado para viabilizar o escoamento da produção em áreas com logística mais difícil como o Centro-Oeste. Não por acaso, quase 80% das 4,9 milhões de toneladas apoiadas pelo PEP foram produzidas em Mato Grosso, que abocanhou subsídio governamental para 3,8 milhões de toneladas do grão no ano passado.
Custo – Os leilões de PEP custaram aos cofres públicos pouco mais de R$ 322 milhões, sendo R$ 268 milhões apenas em Mato Grosso. No total, considerando também operações de Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor), AGF (Aquisição do Governo Federal) e contratos de opção de venda, o governo desembolsou R$ 1,6 bilhão para apoiar a comercialização do milho em 2009.
Logística e infraestrutura – “A grande batalha do agronegócio é reverter esse dinheiro gasto em apoio à comercialização em investimento em obras de logística e infraestrutura. Mas enquanto esse dia não chega vamos continuar precisando da ajuda do governo para vender a produção”, afirma o superintendente do Imea, Seneri Paludo. Ele avalia que o Brasil só conseguirá cumprir a meta de exportação de milho da Conab, de 8,5 milhões de toneladas, com auxílio governamental.
Leilões – “Os leilões precisam começar logo para que possamos entrar na safrinha com exportações razoáveis”, concorda José Ronald Rocha, diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Milho (Abimilho). Segundo Silvio Farnese, do Mapa, o início dos leilões de apoio à comercialização depende da aprovação de uma portaria interministerial que deve sair nos próximos dias. “O balanço de oferta e demanda brasileiro ainda depende do resultado da safrinha, que não começou a ser colhida. Mas já dá para dizer que precisamos exportar no mínimo 10 milhões de toneladas para desafogar esse mercado”, considera o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), João Carlos Werlang.