Crítica para quê?

05/08/2011 23:35

O que faz uma pessoa ler algo sobre a coisa que, talvez, menos a preocupe na vida, sua roupa? Esse questionamento é o desafio de quem reporta moda. O desafio de encontrar o contexto certo, de dar ao efêmero o gosto de perenidade. É a peleja de pôr algum alicerce crítico no que às vezes parece ser um grande edifício que não toca o chão.

Por que apontar e avaliar tendências, resenhar desfiles e discutir a funcionalidade das roupas, e não apenas dizer o que combina com o quê? Embora isso faça parte, não é o bastante. Precisamos de espaços de discussão e crítica de moda, que a validem e a legitimem, se quisermos tratar o assunto com seriedade, em meio a tanta coisa sem importância que o circunda.

E por que? O leitor se perguntaria ainda. Por causa da vasta influência que a moda exerce no cotidiano, no comportamento. O filósofo dinamarquês Lars Svendsen, defende que a moda desempenha um papel mais importante na cultura que as belas-artes. De fato, não nos vestimos influenciados por um quadro ou escultura, mas o fazemos para ficar igual a atriz da novela, um artista preferido, amigos ou mesmo para externar vontades íntimas. A questão que deve conduzir um indivíduo a leitura de moda deve ser, principalmente, sua visão do assunto como prática estética.

Isso significa entender que a crítica de moda tem o papel de despertar no leitor a visão ampla de como a realidade se aplica a si, no tocante ao vestuário. Dando um mergulho na dinâmica da aparência, que torna as pessoas agradáveis ou repugnantes, dependendo de como se vistam.

Mesmo quem diz que moda não tem importância possui seus códigos, e inconscientemente, reproduzem um padrão de vestimenta que lhes caracteriza e distingue, sendo assim, inseridos no propósito da moda de individualizar. A crítica de moda se mostra precisa para revela essa realidade, entre outras.

Para quem não tem o hábito de ler sobre moda, esse é o momento de atentar para a capacidade de se descobrir imageticamente. É um convite para entender que a moda “é uma das faces do artificialismo moderno, do empreendimento dos homens para se tornarem senhores de sua existência”, como bem disse Lipovetsky* em sua grande obra.

Fonte:Primeiraedição

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