11/09/2015 04:58
Agências como a Standard & Poor’s seguem muito relevantes, e nota ruim complica o País e o governo Dilma.
Na noite de quarta-feira 9, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota atribuída ao Brasil, retirando o chamado grau de investimento. A avaliação negativa pode trazer prejuízos ao País e também ao governo Dilma Rousseff, que tratava a manutenção do chamado rating como uma prioridade. Leia as perguntas e respostas, entenda a decisão e suas possíveis repercussões.
O que é o grau de investimento?
O grau de investimento é o selo de bom pagador atribuído pelas agências de risco a empresas e países. Ele indica a investidores de todo o mundo o grau de segurança que terão ao aplicar seu dinheiro. Quanto maior a qualidade de um título de dívida, maior a chance de o compromisso firmado na compra ser honrado.
Desde quando o Brasil tinha esse selo de bom pagador?
Desde abril de 2008, quando a própria Standard & Poor’s colocou o Brasil entre os países com grau de investimento. Em maio de 2008, foi a vez da Fitch dar ao País o grau de investimento. Em setembro de 2009, veio o selo de bom pagador da Moody’s.
Por que o grau de investimento é importante?
Por que a avaliação positiva ajuda o País e suas empresas a conseguirem empréstimos no exterior com melhores condições de pagamento e juros menores.
Por que a Standard & Poor’s rebaixou a nota do Brasil?
O grande motivador da decisão da agência foi a proposta orçamentária enviada pelo governo ao Congresso prevendo um déficit primário de 30,5 bilhões de reais em lugar do superávit de 0,7% estimado anteriormente. Segundo a agência, isso significou “uma convicção menor dentro do gabinete da presidente sobre a política fiscal”. O déficit reforçou a preocupação da agência com o País, manifestada em 28 de julho, quando a S&P revisou a perspectiva de nota brasileira para negativa (ainda mantendo o grau de investimento).
A Fitch e a Moody’s também vão rebaixar a nota do Brasil?
Na Fitch, o Brasil está a dois degraus da nota mínima para ser considerado bom pagador. Em julho, a agência colocou a nota brasileira em perspectiva negativa e indicou que ela deve ser revisada, sem explicitar se o País pode ou não perder o grau de investimento. A Moody’s afirmou, segundo a Folha de S.Paulo, que só deve revisar a nota brasileira se ocorrer algum “evento brusco” na direção da política econômica, o que estaria descartado na visão da empresa.
Por que essas agências continuam relevantes depois da crise de 2007?
As agências de risco foram duramente criticadas após a crise dos títulos subprime que estourou nos Estados Unidos e na Europa em 2008. A Standard & Poor’s, por exemplo, foi acusada pelo governo norte-americano de inflar falsamente a nota de crédito de alguns instrumentos financeiros entre março e outubro de 2007, provocando perdas de 5 bilhões de dólares a investidores institucionais.
Segundo investigadores federais, S&P mentiu deliberadamente para aumentar seus lucros e agradar os emissores de títulos em detrimento dos investidores. Em fevereiro de 2015, a S&P aceitou pagar 1,5 bilhão de dólares ao governo dos EUA e a 19 estados norte-americanos para encerrar as inúmeras ações judiciais abertas contra ela.
Ainda assim, as agências de classificação seguem importantes, pois são parte fundamental do sistema financeiro internacional e não têm substitutas. No início de 2015, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul anunciaram a ideia de criar uma agência de classificação dos BRICS, mas a ideia ainda não saiu do papel.
Qual foi a reação da equipe econômica à decisão?
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, convocou entrevista coletiva no Palácio do Planalto para transmitir mensagem de “tranquilidade e segurança”. Segundo ele, trata-se de “apenas uma avaliação de uma agência de risco, que é importante”. De acordo com Barbosa, o governo trabalha “para manter sempre a melhor avaliação por parte do mercado e de todos os agentes da economia” e tem “todos os instrumentos” para resolver a situação fiscal.
Barbosa, entretanto, lembrou que isso depende de medidas legislativas e de um esforço conjunto da sociedade. O mesmo recado foi dado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Em nota, Levy disse que o esforço fiscal é essencial para equilibrar a economia em um ambiente global de incertezas e reafirmou o plano de garantir a meta de superávit primário de 0,7% do PIB em 2016. Segundo ele, isso será feito por meio do envio de propostas na área de gastos e receitas discutidas com o Congresso.
De que forma a notícia afeta o governo Dilma?
A notícia é ruim para Dilma Rousseff porque afeta um dos poucos setores que ainda a apoiam de maneira firme, o financeiro. Com a taxa de juros nas alturas, o lucro dos bancos quebrando marcas históricas e Levy (ex-Bradesco) na Fazenda, este setor tem se mostrado refratário à busca pelo impeachment comandada pela oposição.
O apoio pode ser reduzido caso este grupo entenda, como a S&P, que o governo perdeu o ímpeto pelo corte de gastos. Para o setor financeiro, credor do governo, é importante que os cortes ocorram, uma vez que permitirão ao Brasil acumular dinheiro para pagar a dívida com seus credores.