16/08/2016 09:24
Disputa eleitoral de 2016 começa com novas regras de financiamento e desafios para os principais partidos do país em meio à crise política e econômica
A campanha eleitoral começa em todo o país nesta terça-feira (16). Ou seja, os candidatos a prefeito e vereador já podem pedir voto e fazer propaganda nos 5.570 municípios brasileiros.
A disputa de 2016 traz um cenário particular: crise política e má fase da economia se juntam a novas exigências e restrições impostas pela Justiça Eleitoral.
Abaixo estão algumas das questões que, seja qual for a região do país, vão aparecer com mais clareza a partir de agora, mas cujas respostas só serão conhecidas após o resultado das urnas.
De que tamanho ficará o PT?
O partido que ficou ininterruptamente por 13 anos no Palácio do Planalto chega nestas eleições desgastado pela Operação Lava Jato e pelo processo de impeachment de Dilma Rousseff.
O diagnóstico de que a crise política afetou principalmente o PT é consensual entre cientistas políticos e entre os próprios dirigentes do partido. Tentar garantir o maior número possível de prefeituras (em especial nas capitais) tornou-se a prioridade para evitar que a legenda perca relevância nacional.
O partido, entretanto, terá que vencer o sentimento antipetista, que ganhou força por causa da crise política e já provocou efeitos concretos dentro da legenda. Entre 2015 e abril de 2016, 135 dos 638 prefeitos eleitos pelo PT em 2012 deixaram a sigla.
Nestas eleições, o número de candidatos petistas deve ser 35,5% menor se comparado a 2012, de acordo com reportagem de “O Estado de S.Paulo”. Lembrando que o resultado da eleição municipal é determinante para a eleição de deputados, dois anos depois.
O PMDB vai usar Temer?
O partido do presidente interino é tradicionalmente o que mais elege prefeitos e vereadores pelo país. A questão, agora, é saber se a imagem de Michel Temer será usada na campanha, prática comum entre candidatos do mesmo partido de um presidente da República.
Até o momento, Temer vem dizendo que não subirá em palanques, ao menos no primeiro turno, para evitar atritos com os partidos aliados. Para o cientista político Arlindo Gonçalves, porém, a razão é outra. A presença de Temer não é necessariamente positiva para os candidatos, pois seu governo é mal avaliado, e por isso ele tende a ficar nos bastidores. “Ele é um presidente sem apoio popular e sem capital eleitoral próprio. A imagem dele está muito associada à crise política”, afirma.
O PSDB vai se afastar de Temer?
O PSDB é considerado um dos partidos que tende a sair beneficiado nestas eleições em razão do desgaste do PT. Mas a despeito de serem articuladores do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e o principal aliado do governo Temer, os tucanos têm sinalizado que tomarão uma via independente, sem se associar diretamente à gestão do peemedebista.
A legenda tem ampliado, por exemplo, as críticas à política econômica do governo interino. A estratégia é vista como uma tentativa de os tucanos ganharem uma imagem própria diante do eleitorado, com a esperança de chegarem fortalecidos em 2018.
A Rede de Marina Silva vai decolar?
Pela primeira vez o partido de Marina Silva vai disputar uma eleição. Será, portanto, o primeiro teste nas urnas da legenda criada pela ex-senadora, que após ser candidata ao Palácio do Planalto em 2010 e 2014 deve repetir a tentativa na sucessão presidencial de 2018.
A Rede terá candidatos próprios em 11 capitais, entre elas São Paulo e Rio. Vencer nos grandes centros é essencial para aumentar a visibilidade de legenda. “A Rede ainda não se credenciou como alternativa política no país. A Marina ficou ausente nesse período de crise. Ela precisa se afirmar como liderança nacional [se quiser ter apelo entre o eleitorado]”, afirma Gonçalves.
Como driblar a descrença nos políticos?
O cenário nacional, com denúncias de corrupção atingindo praticamente todos os partidos e uma economia ruim, acentuou a descrença do eleitorado com a classe política. “O eleitor está muito desconfiado dos políticos. Nesta eleição ele vai votar amargurado”, afirma Arlindo Gonçalves.
O debate sobre os problemas locais (como trânsito, saúde e educação) continuará no centro das campanhas, mas os candidatos precisarão de um discurso capaz de romper o mau humor do eleitor – uma sensação visível em todos os extratos socioeconômicos.
Para especialistas em marketing eleitoral, a crise política anulou (ou pelo menos atenuou) as diferenças entre os candidatos, antes divididos essencialmente pelas afinidades com ricos e pobres. Agora, é como se a maioria dos políticos entrasse com a mesma imagem, muito desgastada pelos escândalos de corrupção. O desafio será justamente convencer que são diferentes.
As pessoas vão doar dinheiro?
Os partidos e os candidatos terão que bancar as campanhas sem o dinheiro das empresas, proibidas de doar pelo Supremo Tribunal Federal. A solução será conseguir dinheiro de pessoas físicas, prática pouco comum no Brasil. Nas últimas eleições, as doações empresariais representaram 70% do total arrecadado.
O desafio será grande já que as campanhas terão de romper com a cultura de pouca participação em meio a um momento agudo de insatisfação popular com a política. Há ainda outro complicador: o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) manteve o veto a plataformas de crowdfunding (financiamento coletivo ou “vaquinha virtual”) para arrecadar doações. Esse tipo de plataforma era visto como mais uma alternativa para incentivar o eleitor a doar.
Como coibir o caixa dois?
A proibição de doações empresariais elevou a preocupação de que partidos recorram ao caixa dois para reforçar as contas das campanhas. Caixa dois é o dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral. Para o presidente do TSE, Gilmar Mendes, a prática do caixa dois não será extinta.
Por outro lado, ele acredita que a Lava Jato iniba doações irregulares. Ainda assim, Mendes diz que a Justiça Eleitoral terá de reforçar a fiscalização porque há a preocupação de que as empresas usem pessoas físicas como “laranjas” para ampliar as doações.
Por Lilian Venturini editora de contemporaneidades no Nexo Jornal