Opinião – Variações do lulopetismo

19/07/2018 11:36

”Por vezes querem compará-lo a Getúlio Vargas ou a Juscelino Kubitschek. Alto lá, o legado de ambos não são míticos, mas verdades históricas palpáveis”

Como toda doutrina esboçada no planeta, o lulopetismo – aqui comparado a uma doutrina apenas para situar a questão – possui vertentes variadas, das geofísicas às geossociais, e com tais características vão semeando uma realidade enganosa, enquanto o interesse lhe convém, ou plantando expectativas também quando a ele proveitosas. Seriam necessários equipamentos de precisão para distinguir, no lulopetismo, até onde vai o interesse pessoal de cada membro ou mesmo a sinceridade cívica de que posam seus arautos. Para os sectários desta pregação, o ex-presidente Lula é o Messias redivivo, já que só praticou ações que abonaram seu incomparável espírito patriótico, só distribuiu benesses onde o interesse público o reclamava, só aceitou incumbências que imediatamente atingissem sua sensibilidade de brasileiro. Enfim, sua atuação messiânica revela seu notável desempenho sindical, político e administrativo, irrepreensivelmente soberbo, nada atestando de egoísmo em todos os níveis, asseguradamente da mais eloquente oportunidade nas ocorrências de suas sempre necessárias e admiráveis intervenções.

Retido nas grades, articula em desvencilhar-se de suas culpas, ora por meio de operários de sua obra, ora por seus advogados (aliás, quem os paga ?), ora por si mesmo, quando fala, ou quando assina declarações (fabricadas por técnicos, elaboradas por terceiros cérebros, já que não possui conhecimentos jurídicos ou intelectivos para tal); e comunicadas à sociedade, como aconteceu quando foi lida carta assinada pelo preso por ocasião do centésimo dia de sua segregação. Por sinal, a condição de prisioneiro de Lula é preciso ser reordenada, pois o encarcerado transformou sua retirada da vida social em uma nova etapa de sua suposta missão terrena, adotando sua cela como palanque (estratégico) de seu passado, presente e futuro. E tudo diante de nossos olhos!

E os lulopetistas – as ocasiões os favorecem – estão se transformando em verdadeiros espadachins da dialética, pois levantam todas as teses e alguns acontecimentos de que Lula é personagem para redimir os erros do ex-presidente, e tornaram-se, com este exercício diário, verdadeiros e invejáveis especialistas da generalidade. Desviam-se do centro. Não conseguem atestar numericamente ou faticamente as suas façanhas, mas banham-lhas de impessoalidade, legalidade, moralidade e outros princípios mais que as fazem imunes a um eventual ataque à sua ilibada conduta. Por vezes querem compará-lo a Getúlio ou a Juscelino. Alto lá, o legado de ambos não são míticos, mas verdades históricas palpáveis. O juízo sobre Lula, se positivo, só poderá ser reconhecido pelo tempo. Até lá, não há evidências que autorizem aplauso.

E, para impacto da verdade lulopetista, alguns parlamentares, visando exporem sua solidariedade político-partidária, decidiram acrescentar a seus nomes um novo patronímico (possivelmente sem dispor do necessário registro público), que é o de Lula (uma antonomásia ?) pelo qual o ex-presidente se anuncia há dezenas de anos, facilitando a eles comporem-se com a linhagem do nobre cavalheiro Luiz Inácio. Seria muita nobreza não fosse o ridículo que incorrem estes cavalheiros. E incorrem em infração visto que o procedimento configura falsidade ideológica porque estão adulterando documentos de identidade emitidos pelo poder público objetivando obtenção de vantagem eleitoral.

 

 

 

Por José Maria Couto Moreira, advogado

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