25/10/2018 13:38
Todos fazemos coisas erradas, uns mais, outros menos, de gravidades variadas, mas quem é normal sente remorso daquilo que maltrata ou prejudica outrem.
A relativização dos atos, analisados de acordo com a posição ou os supostos fins de quem os pratica, está levando a sociedade ao caos, porque não se consideram mais o sentimento médio das pessoas, os valores transmitidos por gerações e os pactos estabelecidos. Vale a superioridade moral que cada um atribui a si.
Entramos em tempos de vale tudo e qualquer coisa serve. Importa a busca da felicidade, os direitos plenos, sem a contrapartida dos deveres.
Levar um desconhecido para dentro de casa, mesmo em prejuízo dos filhos pequenos, virou bandeira de movimentos, quando estes deveriam alertar as pessoas, especialmente as mulheres, para a crescente violência doméstica decorrente de relacionamentos feitos de qualquer maneira. Eles preferem culpar o machismo, é mais fácil, combatê-lo não dá o mesmo trabalho de educar mulheres e homens menos instruídos.
Dependendo de que lado se esteja, roubar e corromper passaram a ser vistos como atos normais, como fazer necessidades fisiológicas. “Todos fazem, então também podemos”, justificam. A lógica é de que posso matar se meu vizinho é um matador.
Pessoas que conhecemos, cuja postura beirava o moralismo em termos de honestidade, defendem sem pudor os ladrões dos recursos públicos, sob o argumento de que corrupção sempre existiu. Roubo e assassinatos sempre existiram, mas nem por isso vou sair por aí roubando e matando para me igualar aos maus.
A ideologia adoeceu e embotou a mente de uma parte da sociedade. O vale-tudo passou dos limites. Chegou a hora de darmos um freio de arrumação, nem que seja com uma personalidade autoritária servindo de contraponto aos desembestados.
Por Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.