26/08/2020 16:50
”Lula deixou claro, que sem uma “frente ampla”, a tendência é quem esteja no poder ter mais chance de ser competitivo”, salienta Ney Lopes
Na recente visita que fez a Mossoró, no RN, o presidente Bolsonaro revelou a mesma desenvoltura política das suas últimas viagens. Age como se estivesse em campanha à reeleição, agora embalado pelos excelentes índices de popularidade, que vem alcançando, nas últimas pesquisas.
Não há dúvida de que, se eleição fosse este ano, ele seria facilmente reeleito. Vários fatores o beneficiam politicamente.
No início da pandemia, Bolsonaro negou a gravidade do efeito mortal do vírus e propôs ao Congresso Nacional um auxílio emergencial de R$ 200 reais. Entretanto, nenhum desses comportamentos o desgastaram.
O Datafolha mostrou que 47% dos entrevistados não o culpam pela expansão da pandemia. O auxílio emergencial, que o Congresso Nacional se empenhou para que fosse de R$ 600 reais, ao invés de R$ 200, terminou capitalizando Bolsonaro, que se apresenta com o protetor da pobreza, ao promover essa transferência de renda.
“Saiu pela culatra” o tiro dos adversários, ao acusá-lo nessas duas situações. A oposição cada dia é mais inexpressiva e perde respaldo popular. O grande mal é que não apresenta um projeto nacional consistente, que se oponha à Bolsonaro, que continua crescendo.
Observe-se, que uma das causas desse crescimento é a ajuda em dinheiro dada aos pobres, o que, antes, a mesma direita, hoje apoiadora de Bolsonaro, se negava a aceitar (Bolsa Família) e qualificava como compra de votos e promoção da ociosidade coletiva.
O desanimo dos oposicionistas chegou até ao ex-presidente Lula, que em entrevista dada ao jornalista Fabio Pannunzio, disse que o PT pode até não ter candidato à Presidência, em 2022.
Lula deixou claro, que sem uma “frente ampla”, a tendência é quem esteja no poder ter mais chance de ser competitivo. A essa altura do campeonato, com as diferenças internas dos partidos oposicionistas, será difícil consenso para oferecer “proposta alternativa conjunta” ao país.
Não havendo essa união, quem se beneficiará é o governo.
Aliás, no final da entrevista, Lula advertiu que, sem unidade no “discurso”, não adiantará a oposição ficar nervosa e chutar a parede.
Trocando em miúdos, o que se deduz da declaração é que até Lula admite nas entrelinhas a reeleição de Bolsonaro, em 2020.
Por Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – [email protected] – blogdoneylopes.com.br