Opinião – Inflação, problema global

18/10/2021 09:00

”Em alguns países, como o México e Brasil, a situação de agravou em decorrência de períodos de estiagem particularmente acentuados”

Nossa imprensa tem sido pródiga de análises sobre as pressões inflacionárias que incidem sobre Brasil, mas nelas tenho sentido falta de uma visão mais abrangente que leve também em consideração o que vem ocorrendo no resto do mundo.

Essa visão global é fundamental para se compreender um fenômeno que hoje preocupa igualmente os bancos centrais dos países desenvolvidos, dos emergentes e dos pobres. Entender o que está acontecendo com os preços no resto do mundo, ajudará a colocar na devida perspectiva o que ocorre no País, ajudando na prescrição do remédio adequado.

Um exemplo marcante é o dos Estados Unidos, a principal economia do mundo, onde o índice inflacionário preferencial do Federal Reserve, seu banco central,, registrou em julho passado aumento de 4,2% em relação ao mesmo mês de 2020, mais do dobro da inflação-alvo, de dois por cento. No Reino Unido, a inflação anual observada em agosto foi de 3,5%, bem acima da meta (também de dois por cento).

Em artigo recentemente publicado pelo New York Times, Jeanna Smalek comenta que o aumento da inflação preocupa hoje os países da União Européia, o Reino Unido, o Canadá, Nova Zelândia, Coréia do Sul e Austrália, entre outros. Os aumentos de preços, em sua percepção, é alimentado pelo desarranjo das cadeias de produção – um dos efeitos da Covid-19 – e pela elevação de custos dos fretes.

Para Smalek, a inflação generalizada reflete o descompasso entre o que os consumidores desejam comprar e o que as empresas são capazes de oferecer. Mais, “(enquanto pressões inflacionárias globais) podem ser amplificadas pelo estímulo ao gasto, elas não decorrem das medidas de nenhuma nação, especificamente”.

Na mesma linha, Kristin Forbes, ex-integrante do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra e professora do MIT (Massachusetts Institute of Technology), observa que há muito estímulo em ação no sistema, o que aumenta a demanda e puxa com ela a inflação. Em sua opinião, essa situação deverá ser temporária. Não obstante, a grande questão continuará a ser sobre o quanto durará essa pressão decorrente da quebra da ruptura das cadeias de abastecimento.

Há, claro, assinala Forbes, a possibilidade de que esse aumento de preços global demore a se reverter e se torne especialmente grave em certos países. Isso pode acontecer, em sua percepção, se houver excessiva generosidade na recomposição de salários: “para se ter a inflação de volta sob controle serão necessárias penosas respostas de política monetária que, em contrapartida, poderão levar as economias de volta à recessão”.

A Fitch, empresa especialista em avaliação de riscos, em análise que acaba de divulgar, avalia o impacto dos efeitos inflacionários sobre a economia dos países emergentes: “elevados preços de alimentos e da energia levaram a inflação a desconfortáveis altos níveis na Rússia, no Brasil, na Polônia e na Índia”, onde as taxas se situaram bem acima das metas estabelecidas por seus respectivos bancos centrais.

Segundo essa análise, muitos países emergentes enfrentam uma combinação de alta de preços de commodities e a retomada do consumo, decorrente da reabertura das atividades econômicas, ao que se somam os gargalos decorrentes da ruptura de cadeias de produção . Em alguns países, como o México e Brasil, a situação de agravou em decorrência de períodos de estiagem particularmente acentuados.

Por Pedro Luiz Rodrigues, diplomata e jornalista. Chefiou a área de Comunicação Social do Ministério da Fazenda sob os ministros Ernane Galvêas, Marcílio Marques Moreira e Pedro Malan.

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