17/11/2021 15:15
”Vai que além de Marina Ciro, o João Amoedo também desiste?”
Brasil em choque: Ciro Gomes ameaça não ser candidato a presidente ano que vem.
É verdade que o momento é difícil e o país tem lidado com provações sem precedentes, mas por essa ninguém podia esperar. Os brasileiros já tiveram que aprender até a viver sem carnaval, mas sem Ciro Gomes candidato o povo fatalmente perderá o rumo de casa.
Como uma pátria pode manter sua identidade se de repente um dos seus eventos mais tradicionais, repetido religiosamente a cada quatro anos, é simplesmente cancelado? Como isto aqui poderá continuar se chamando Brasil sem os insultos sazonais de Ciro Gomes? A nação verde-amarela será capaz de se recuperar de um golpe tão duro?
Pensa bem: quem baterá em repórter em 2022? Quem xingará os adversários com a mais famosa incontinência verbal da política brasileira e depois correrá para o colinho das subcelebridades cariocas, onde boçalidade vira doçura?
Quem dirá que Lula não presta, mas é meu amigo, mas usou o PT, mas foi usado pelo PT, mas não merecia ser preso, mas tava preso babaca (valeu, Cid), mas é um grande líder, mas já era, mas sei lá, votem em mim em vez do Lula, votem em mim em vez do adversário do Lula, porque eu sou a verdadeira centro-esquerda e a verdadeira centro-direita, enfim, eu sou o que vocês quiserem que eu seja, eu sou a terceira via de mão dupla, que pode engrenar uma quarta, se vocês quiserem, ou até mesmo a segunda via, com firma reconhecida, se a primeira tiver se extraviado.
Como o Brasil vai encarar 2022 sem essa clareza de propósitos que a cada quatro anos faz de Ciro Gomes seu Norte? Seu Nordeste? Seu Centro-Oeste? Seu Sudeste? Seu Sul? E também seu Sudoeste, seu Noroeste e mais que direção você quiser que ele invente, o que nunca foi problema. Um candidato que tem na ponta da língua o número que você quiser – frio ou quente, salgado ou doce, enfim, ao gosto do freguês. Como encarar uma corrida presidencial sem esse patrimônio da coerência nacional?
Analistas de mercado estão roendo as unhas. Que cenários projetar, sem o fator Xingo Nomes? Os adivinhões mais marrentos estão acuados como crianças assustadas. Ninguém arrisca previsão nenhuma. Vendedores de cursos e palestrantes sabichões estão rasgando seus MBAs. Todos terão que recomeçar do zero se essa bomba se confirmar. Não ouse dar uma palavra sobre o futuro da Nasdaq se Ciro Gomes sair de cena. O Dow Jones nem sabe se ainda haverá pregão. Desde o 11 de Setembro não se vê tanta incerteza.
Mas pode piorar. Imagine se a renúncia de Ciro Gomes ao cargo de presidenciável profissional contamina Marina Silva?
Ok, é um cenário cruel demais, mas agora temos que ser fortes e nos preparar para o pior. Responda com coragem e sem evasivas: uma eleição presidencial sem Marina Silva e Ciro Gomes pode ser considerada eleição? Eis uma dúvida jurídica que o time do TSE vai ter que destrinchar. Pelo menos essa segurança nós temos: o TSE com toda certeza contratará as melhores subcelebridades militantes para dizer ao público, de forma eminentemente técnica, se eleição sem Marina Ciro é golpe, micareta ou sonho de uma noite de verão. Nessas horas, um tribunal confiável é tudo.
Mesmo que o TSE decida pela legitimidade de uma eleição sem a dupla de presidenciáveis mais famosa do mundo, ainda restarão dilemas cívicos capazes de macular o processo eleitoral. Quem vai tirar os brasileiros do SPC? Quem vai oferecer aquela salada verde de apocalipse climático com democracia de alta intensidade – tudo envernizado por economistas famosos e ricos que se sacrificam a cada eleição para retocar suas biografias e aparecer como oráculos da bondade?
Como você pode notar, a situação é muito preocupante. Vai que além de Marina Ciro, o João Amoedo também desiste? Aí é melhor cancelar o pleito de uma vez e deixar as urnas eletrônicas decidirem sozinhas. Como se sabe, elas têm vontade própria.
Por Guilherme Fiuza, jornalista e escritor com mais de 200 mil livros vendidos – entre eles: “Meu nome não é Johnny”, “3.000 dias no bunker” (ambos adaptados para o cinema), “O Império do Oprimido” e “Manual do Covarde”, Guilherme Fiuza trabalha para veículos como Jovem Pan, Gazeta do Povo e Revista Oeste. Seus canais no YouTube, Twitter e Instagram somam mais de 1 milhão de seguidores.